Falar na nossa língua

[vc_row][vc_column][rev_slider alias=”nuvem-palavras”][/vc_column][/vc_row][vc_row css=”.vc_custom_1535055657078{margin-top: 24px !important;}”][vc_column][vc_column_text]Por Luzia Queiroz e Mirella Lino
Com apoio de Daniela Felix e Wandeir Campos

Depois do rompimento da Barragem de Fundão, os(as) atingidos(as) passaram a ter que conversar com diferentes grupos que atuam no contexto do desastre-crime. Esses diálogos, porém, não são fáceis de enfrentar, pois, além das desigualdades de poder, as comunidades têm dificuldades para entender o uso de termos técnicos e de uma comunicação, principalmente a feita pela Fundação Renova/Samarco, não pensada para eles(as). Diante desse desafio, os(as) moradores(as) falam sobre a sua vontade de ver as questões sendo tratadas dentro de um vocabulário que todos(as) tenham condições de entender.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row css=”.vc_custom_1535053371099{margin-top: 24px !important;}”][vc_column][thb_border][vc_column_text]Logo no início, a Renova/Samarco começaram a falar de masterplan, dam break, stakeholders. Parecia que a gente falava com extraterrestre, porque não entendia “patavinas”. A gente também não sabia o que significava impactado. E, depois do esclarecimento do promotor Guilherme, decidimos não aceitar esse termo, porque nós fomos atingidos até a alma. Rejeito também foi uma palavra que aprendemos a usar passado um tempo. Eles falavam lama, mas entendemos que o correto é rejeito tóxico. Também chamavam a gente de atores, até que perguntamos se estávamos participando de uma novela. Evento foi outra palavra que a gente recusou, porque dá a entender que é uma coisa boa.

Lembro de quando os funcionários da Renova/Samarco começaram a dizer que precisavam da validação da Comissão dos Atingidos. Quando soubemos que isso significava “dar um ok” para as coisas, começamos a ter mais cuidado, para não assumir compromissos que não queríamos. E, quando os advogados do coletivo Margarida Alves disseram que a gente precisava de um assessoramento técnico, ficamos em dúvida do que seria isso. Só depois foi explicado que assessoria era um grupo de profissionais para trabalhar em nossa defesa. Hoje, ainda temos que estar por dentro de TAC, TTAC, Câmara Técnica, CIF, acordão, força tarefa, cadastro e PIM, que são coisas que muita gente ainda não sabe o que é.

Quando começamos a discutir o novo mapa de Paracatu, usavam umas palavras nas assembleias que a gente voava igual passarinho. Aí alguém de nós tentava resumir o que foi discutido. Mas, por mais que a gente se esforçava, voltava pra casa sem pegar tudo. Tem pouco tempo que começamos a entender, por exemplo, o que é se apropriar. A Angélica, como membro da comunidade e professora da Escola de Paracatu, nos explicou da forma dela. E, aí, discutimos sobre como poderíamos nos apropriar daquele espaço, reconhecê-lo e se enxergar nele. Alguns tinham entendido que isso era como se transportar para aquele lugar e fazer de conta que se está nele.

Também precisamos de informações sobre os órgãos SEMAD e SECIR, entre outros, porque, às vezes, durante uma assembleia, alguém tem que dar o grito: “quem são esses?”. O termo patrimônio cultural também podia ser melhor explicado. Queremos saber o que é, para que serve e o que engloba, já que estamos discutindo bastante sobre isso nas reuniões. Tem gente que acha bobagem, quando, na verdade, é algo muito importante, que vai “segurar” a nossa comunidade. Depois de tudo, posso dizer que, se tem uma coisa que aprendi, é que quem cala, consente. Então, a minha função na Comissão dos(as) Atingidos(as), hoje, é a de questionar tudo.

Luzia Queiroz, moradora de Paracatu de Baixo

[/vc_column_text][/thb_border][/vc_column][/vc_row][vc_row css=”.vc_custom_1535053358677{margin-top: 24px !important;}”][vc_column width=”1/2″][vc_column_text]

Desde 2015, Luzia Queiroz anota tudo o que é discutido com a Fundação Renova/Samarco e marca as palavras que precisam ser melhor explicadas. (Foto: Daniela Felix/Jornal A Sirene)

[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width=”1/2″][thb_border][vc_column_text]Entender as palavras e tentar, de alguma forma, dar um significado para elas foi e ainda é bem incômodo, porque isso cansa mais o processo. Até procurar saber o que significam as palavras que a Fundação Renova/Samarco usa, entender qual é a sua proposta, para depois ver se concorda ou não e, assim, construir uma proposta que achamos justa. Não há necessidade dessas palavras, é desrespeitoso com todos nós, atingidos. Não vejo empenho da fundação/empresas em nos explicar o que essas palavras significam, ao contrário, eles só se dão ao trabalho de falar sobre isso quando alguém pergunta. Na maioria das vezes, cobramos que usem palavras mais acessíveis a todos, mas o que ela faz é explicar e continuar a usá-las. Elegibilidade, parâmetros, deliberar. Algumas eu já conhecia, mas o difícil era entender o sentido que elas tinham no contexto da proposta da fundação.

Mirella Lino, moradora de Ponte do Gama

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