O nosso Natal improvisado

[vc_row][vc_column][vc_column_text]-

-[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row css=”.vc_custom_1514147932470{margin-top: 25px !important;}”][vc_column][vc_column_text]Por Ângela Lino, Gilmar José da Silva, Joelma Souza, Luzia Queiroz, Marlene Agostinha, Mirella Sant’Ana, Simaria Quintão e Sandra Quintão

Com o apoio de Larissa Helena e Wandeir Campos

Vídeo: Daniela Felix

As festas de final de ano, particularmente o Natal, são, para grande parte das famílias, momentos de alegria e comunhão. Contudo, podem ser também dias difíceis para aqueles que são obrigados a enfrentar, na expectativa dos encontros, a dura realidade das perdas. Para os atingidos e atingidas, essa mistura de emoções é ainda mais difícil. Afinal, a gratidão, a força e a esperança convivem com uma tristeza que não se deixa mascarar.

Dói chegar a ceia de natal e não ter à mesa as mesmas pessoas que, antes de 2015, reuniam-se com facilidade nesta ou em qualquer data do ano. Dói a ausência daqueles que partiram desse mundo e daqueles que, nele, se perderam; dói a falta de quem, mesmo presente, não está ali da mesma forma que antes. Dói porque a mesa, assim como a casa, não é exatamente sua.

Ainda assim, no Natal, uma luz parece se acender. Há um abraço de pai que conforta, um carinho de vó que alimenta, uma estripulia de criança que faz rir. Com o futuro em aberto, a oração ganha ainda mais força. É nesse estar junto que as energias se renovam, que os dias melhores parecem possível, que a provisoriedade do agora torna-se passageira. O que fica é o estar junto que resiste às maiores e mais destrutivas tempestades de lama.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row css=”.vc_custom_1514147813865{margin-top: 25px !important;}”][vc_column width=”1/2″][thb_border][vc_column_text]O Natal era uma data em que filhos, pais, amigos e família em geral ficavam eufóricos com os preparativos. Quando todos chegavam em Paracatu de Baixo, ficava pequeno. Antes, o ritual do nosso Natal era passar de casa em casa; hoje, não mais. As famílias moram longe umas das outras e quase não se veem. Além das casas serem pequenas, se quisermos fazer as felicitações, temos que dividir o tempo, porque as casas são distantes e, às vezes, se dá um desencontro, vem a frustração. E aí estamos neste lugar estranho onde nem todos entendem nosso modo feliz de viver. Também tinha a folia, que não chega mais nas residências com música. O que eu desejo a todas as famílias são boas festas e muita paz para enfrentarmos as intempéries da vida.

Luzia Queiroz, moradora de Paracatu de Baixo

[/vc_column_text][/thb_border][/vc_column][vc_column width=”1/2″][thb_image image=”823″][thb_image image=”825″][thb_image image=”818″][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column css=”.vc_custom_1514144590560{margin-top: 25px !important;}”][thb_border][vc_column_text]

Eu não desmontava minha árvore, ela ficava no canto da minha sala o ano inteiro. Minha decoração é do Cruzeiro e, assim que ia chegando o Natal, eu ligava para fazer inveja aos atleticanos. Como perdi isso tudo, quando a gente veio pra cá, a minha sobrinha Leila achou as mesmas bolinhas do Cruzeiro e trouxe pra mim, só que elas são poucas e difíceis de achar. Agora mudou tudo, né? A gente montava a árvore, tinha o nosso Natal. Nossas casas eram todas juntas, do meu irmão, da minha irmã. Fazíamos a festa e o amigo oculto no terreiro mesmo. Tinha uma piscina de Olívia que todos adoravam entrar para brincar.

Do primeiro Natal fora de Bento até hoje, o terceiro, mudou muito. Falta o Bento. Falta o nosso lugar. Esse ano já estamos nos organizando para passar o Natal lá. Mesmo destruído, lá é o melhor lugar do mundo pra mim, e temos que adquirir forças para reivindicar nossos direitos. Não gosto de falar “Novo Bento”, nem “Bento antigo”. Existe o Bento e existe a Lavoura, que vai ser um braço de Bento, mas nunca será o Bento Rodrigues. Só fazíamos o Natal depois de irmos à missa, porque morávamos muito perto da igreja, fomos ensinados, desde criança, assim. Hoje, vejo que essas experiências que aprendemos no Bento, de religião, de tudo, é o que nos permite voltar lá e fazer as nossas orações, nossas leituras, nossas brincadeiras.

Simaria Quintão, moradora de Bento Rodrigues

[/vc_column_text][/thb_border][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column css=”.vc_custom_1514144705131{margin-top: 25px !important;}”][thb_border][vc_column_text]O nosso Natal era muito bacana. A gente conseguia juntar toda a família porque tínhamos lugar para morar. Além de ter o lugar para morar, a gente tinha uma união diferente, porque vinha a família de São Paulo, de Pouso Alegre, de Belo Horizonte, de todo lado, e que tinha o prazer de se unir ali em Gesteira. Hoje, tudo acabou porque nós não temos mais um lugar para onde ir. Aliás, temos sim, casas alugadas. Hoje, as pessoas deixam de vir aqui em casa porque sabem que não estamos com a estabilidade muito boa. O Natal de luz a gente lembra dele com muito carinho, eram muitas luzes em Gesteira, mas como que faz isso estando na casa dos outros? Eu me pergunto, como enfeitar um lugar que não é da gente? Eu gostaria que alguém me respondesse: se há felicidade nisso, se há alegria no Natal? A gente não tem casa, não tem apoio e a família não dá pra agrupar mais. É muito triste o que acontece com a gente.

Gilmar José da Silva, morador de Gesteira

[/vc_column_text][/thb_border][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column css=”.vc_custom_1514144779402{margin-top: 25px !important;}”][thb_border][vc_column_text]No Natal de antes, as pessoas eram mais unidas. Minhas irmãs, nossa família, hoje, não. Faz três semanas que não vejo elas. Vamos tentar, neste ano, reunir todo mundo. Agora, cada um morando em um canto fica difícil de se falar. Lá em Bento, nessa época, estaríamos juntos e nos programando para o Natal. Era legal abrir as caixas e enfeitar. Íamos para o mato buscar musgo. Tinha a Missa do Galo e a ceia era depois dela. Arroz doce, doce de pão, pernil assado são alguns dos pratos que fazíamos. Eu também gostava de montar o presépio da igreja. Os bichinhos eram muito antigos: as vaquinhas, as ovelhas, o Menino Jesus e as imagens que a gente colocava. As peças eram todas de madeira bem antigas e, hoje, não tem mais esse tipo, são tudo de plástico. Aqueles bichinhos tinham história.

Sandra Quintão, moradora de Bento Rodrigues

[/vc_column_text][/thb_border][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column css=”.vc_custom_1514145019440{margin-top: 25px !important;}”][thb_border][vc_column_text]Já faz dois anos que a gente não passa o natal igual a gente passava lá na roça. Antes tinha espaço, o campo, o terreiro. Hoje a gente não fica à vontade. Lembro que os meninos subiam no pé de goiaba, pé de manga e catavam ameixa. Época de manga verde, a gente apanhava demais. O natal aqui em Mariana é diferente, não é mais o mesmo. Todo mundo fala que sente falta do antes. A casa de vó é que era gostoso.

Marlene Agostinha, atingida de Pedras

[/vc_column_text][/thb_border][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column css=”.vc_custom_1514145037278{margin-top: 25px !important;}”][thb_border][vc_column_text]A gente não tem mais Natal. Como era um lugar muito pequeno – Ponte do Gama tem, aproximadamente, 54 pessoas -, éramos praticamente uma única família.Todos se reuniam, minha avó tem enteadas que moram fora do Estado e do país e elas vinham só para o Natal. A cozinha da casa da minha avó é enorme. Foi feita para isso, para a família. Desde quando viemos para cá, não temos mais isso. No primeiro ano, viemos dois dias antes do Natal, porque a Samarco precisava colocar as pessoas em casas [provisórias]. Não tem ônibus para chegar na casa da minha avó, então, para voltar lá, é muito difícil, ou vamos de carona ou de ônibus e caminhamos 6 quilômetros a pé. Não mudou nada do primeiro ano para o terceiro. Não conseguimos ir para roça, eles também não conseguem vir para cá [para Mariana]. A gente não sabe como resolver isso. Fazíamos a decoração no início de dezembro, os vizinhos ajudavam a colocar o pisca-pisca, a montar a árvore. Aqui não tem graça decorar.

Mirella Sant’Ana e Ângela Lino, moradoras de Ponte do Gama

[/vc_column_text][/thb_border][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column css=”.vc_custom_1514145522690{margin-top: 25px !important;}”][thb_border][vc_column_text]Lá no Bento, o nosso Natal era repleto de doces e comidas caseiras, a ceia era farta. A nossa tradição era o doce de jacatia, uma raiz que, todo ano, os meus tios Zé e Luiz  buscavam. E só eles conheciam a época certa de pegar. Era tradição da família Souza fazer os doces e depois dividir com a comunidade. Hoje, nós perdemos esse costume. Essa raíz da jacatia a gente só acha dela lá, aqui não tem. É um doce demorado para se fazer, pois tem vários processos, é feito no fogão à lenha e demora uns três dias para ficar pronto. Já a nossa comemoração de final de ano era passar lá na minha lanchonete.Tinha uns forrozinhos e enchia de gente. Zezinho e Irene iam pra lá tocar violão. Lembro que, em 2014, fizemos um festão, parece até que foi despedida. Quando foi seis horas da manhã, fomos comemorar o primeiro dia do ano tomando banho no lago que ficava na beirada da estrada.

O doce de jacatia da família Souza (rende um tacho grande)

Ingredientes:

  • Raiz de jacatia
  • Açúcar (aproximadamente 5 kg)
  • Leite (aproximadamente 5 garrafas PET = 10 litros)

Modo de fazer:

1 – Lavar a raiz da jacatia e depois ralar.

2- Deixar de molho em uma vasilha com água de um dia para o outro.

3- Após isso, colocar a polpa no tacho e deixar cozinhando. Aqui, acrescentar o açúcar conforme for secando.

4- O ponto é quando a polpa estiver sequinha igual a um coco em flocos. Assim, acrescentar o leite e deixar secar.

Joelma Souza, moradora de Bento Rodrigues

[/vc_column_text][/thb_border][/vc_column][/vc_row]