Entre o cansaço e a esperança

[vc_row][vc_column][vc_column_text]Por Expedito Lucas da Silva (Kaé), Manoel Marcos Muniz e Maria Geralda
Com apoio de Francielle de Souza e Wandeir Campos
Foto: Miriã Bonifácio[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][thb_gap height=”50″][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][thb_border][vc_column_text]

A Fundação Renova/Samarco insiste em dificultar as negociações do processo de reparação integral e, assim, a retomada dos nossos modos de vida parece ficar cada vez mais distante. Desde o rompimento, precisamos denunciar o descaso das empresas e, ainda, manter alguma expectativa de que nossas perdas e danos sejam reconhecidos para, enfim, teremos nossa vida de volta. Se pudéssemos nos encontrar com quem éramos há três anos, o que será que diríamos dessa trajetória? Como contaríamos sobre o que (não) tem sido feito nesse tempo? Quais recados gostaríamos de dar a nós mesmos?

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Ainda há luta

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A sensação que tenho e acho que é a mesma da maioria dos atingidos é que nesses três anos a nossa vida parou. Eu poderia estar na minha casa com a minha família, nos momentos de lazer ou fazendo as atividades diárias, como era de costume, cuidando daquilo que eu mais gostava, desfrutando de tudo que conquistamos com o nosso trabalho, eu e minha esposa já aposentados e minha filha na nossa comunidade – Bento Rodrigues. Como sempre falo, hoje vivemos em função do rompimento, mas até isso a empresa entende que é nossa obrigação.[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width=”1/2″ css=”.vc_custom_1541786716920{padding-top: 30px !important;padding-right: 30px !important;padding-bottom: 30px !important;padding-left: 30px !important;background-color: #d3d3d3 !important;}”][vc_column_text]Se vamos às reuniões para defender direitos que nos foram tirados é porque eles estão se negando a reconhecer. De quantas reuniões participamos até hoje? Quantas entrevistas foram dadas? Isso aconteceu alheio a nossa vontade, estávamos no anonimato de um distrito tranquilo e sossegado. Quem nos tirou tudo isso é que tem o dever e a obrigação de nos reparar.

No meu caso, me consideram como “meio atingido”, os meus direitos são pela metade, e tem também aquelas pessoas que ainda não tiveram os direitos reconhecidos. É uma situação simples de ser resolvida, mas a Renova/Samarco prefere subtrair daqueles que eles sabem que são atingidos e que perderam tudo num piscar de olhos, como num passe de mágica, arrancados por eles mesmos, resultado da ganância. Preferem gastar quantias volumosas com o jurídico, nos humilhando nas audiências, buscando esconder atrás das leis o crime que cometeram, transformando o atingido em réu. Por quanto tempo mais nós vamos ter que continuar “mendigando” nossos direitos, sendo humilhados e constrangidos diante das empresas e da justiça? Os projetos de vida que eu tinha foram interrompidos. Até quando?[/vc_column_text][vc_column_text]

Manoel Marcos Muniz,
Morador de Bento Rodrigues.

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Como nos sentimos

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Antes eu me sentia uma pessoa livre, hoje mudou. Minha liberdade… Me sinto como um passarinho que estava solto e você prende ele na gaiola, depois o solta e ele nunca será o mesmo. Fica sem rumo. É difícil até para quem está de fora entender, só quem é atingido(a) sabe. Então, para o Kaé de antes, eu digo que você tem que seguir em frente, tocar a vida, erguer a cabeça e enfrentar os problemas. Só assim que você vai conseguir.

Expedito Lucas da Silva (Kaé)
Morador de Bento Rodrigues

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[dropcap]N[/dropcap]esses 3 anos, a vida já não é mais a mesma de antes. Estamos vivendo na esperança de que as empresas façam alguma coisa, mas até agora nada. Tudo está do mesmo jeito. Temos muitas reuniões, nada é decidido e nem sabemos quando vai ser. Vivemos em um lugar que não é nosso. Tivemos que vir pra cidade, viver de aluguel, de cartão. Essa não é a nossa vida. Eu cuidava da minha casa, vivia tranquila, cuidava das minhas plantas. Agora acabou a nossa liberdade. As empresas acham que o direito é deles, que podem pisar em nós. Não estamos sendo reconhecidos. Atingido não tem valor para eles. Isso não é certo. A culpa é das empresas. Foram elas que cometeram um crime.

[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width=”1/2″ css=”.vc_custom_1541789401254{padding-top: 30px !important;padding-right: 30px !important;padding-bottom: 30px !important;padding-left: 30px !important;background-color: #d3d3d3 !important;}”][vc_column_text]

Tenho ido a reuniões, por exemplo, e fico pensando no meu povo de Paracatu. Muitos já perderam a esperança. Às vezes, olho para as pessoas e vejo isso nos olhos de muitos. Uns estão doentes, outros já se foram e nem puderam ver o novo Paracatu. Sabemos que nossas casas não vão ficar prontas em 2019. Tudo o que queremos é justiça e a empresa nega nossos direitos. Não conseguiram devolver a nossa vida ainda.

Para a Maria Geralda de antes, eu diria que tudo está muito diferente. Agora eu vivo preocupada, pensando quando vamos sair dessa. É muito sofrimento, muita dor, muito desespero. São três anos de angústia e sofrimento. Eu diria que essa marca nunca vai apagar, essa marca vai ser pra sempre, mas a gente vai aprendendo com a vida.

Maria Geralda
Moradora de Paracatu de Baixo

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