Os pés de fruta da roça

[vc_row][vc_column][vc_column_text]A infância na roça possibilita o desenvolvimento de muitas habilidades e uma relação com a natureza que faz com que se alimentar das frutas seja mais divertido e prazeroso. Em Bento Rodrigues e em Paracatu de Baixo, nos pés de goiaba, jabuticaba, acerola, manga e de muitas outras frutas, as crianças se deliciavam ao mesmo tempo em que brincavam subindo nas árvores e “roubando” frutas dos vizinhos. As árvores também ofereciam abrigo quando as crianças fugiam das broncas dos pais. Lá no alto era como se nada pudesse lhes acontecer.[/vc_column_text][thb_gap height=”50″][vc_column_text]

Por Ana Luiza Euzébio, Keila de Fátima Gonçalves, Laisa Gonçalves Marcelino, Lídice Maya da Silva, Lucielly Aparecida Lopes Marcelino, Maria Luiza Alves da Silva, Pâmela Eduarda Anacleto, Rafaela Kecia da Silva, Raquel Luciana Felipe, Samantha Fernandes e Weuller de Sousa Cota

Com o apoio de Joice Valverde, Júlia Militão, Juliana Carvalho, Wigde Arcangelo, Jaciara Lima*, Lavínia Torres* e Victória Oliveira*

*Programa de Extensão da UFOP “Sujeitos de suas histórias”

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][thb_gap height=”50″][thb_image alignment=”center” image=”4732″][thb_gap height=”50″][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][thb_gap height=”50″][vc_column_text]Na minha casa, tinha pé de manga, de goiaba, laranja, mexerica, mamão que apareava na cerca…

Ana Luiza Euzébio, 13 anos, moradora de Bento Rodrigues

 

No meu quintal, tinha pé de limão, jabuticaba, mexerica, laranja e manga… Manga, não. Manga eu “roubava” do vizinho. 

Lídice Maya da Silva, 14 anos, moradora de Bento Rodrigues

 

Lá em casa, tinha laranja, jabuticaba, goiaba, abacate, limão… 

Raquel Luciana Felipe, 14 anos, moradora de Bento Rodrigues

 

De casa, eu não gostava de nada, não. Eu gostava de “roubar” dos outros.

Maria Eliza Alves da Silva, 14 anos, moradora de Bento Rodrigues

 

Morava em Paracatu. Eu subia nas árvores, mas não levava as frutas para casa, comia debaixo do pé mesmo. Os pés de árvore que eu subia ficavam na casa da vizinha. Às vezes, quando a minha tia mandava a gente fazer alguma coisa, fugíamos para o pé de goiaba, até ela ir buscar a gente. Víamos os outros caindo, se machucando… Eu não caía, só os outros. A gente costumava subir nas árvores para correr de cachorro, de bicho, de vaca. Meu pé de fruta favorito era o pé de goiaba do vizinho, porque era uma goiaba grande e vermelha.

Rafaela Kecia da Silva, 16 anos, moradora de Paracatu de Baixo

 

Um dia, eu estava na casa da minha avó e ela juntou um monte de pedaço de corda para jogar fora. Eu peguei e arranjei um pedaço de pau qualquer, fui num pé de manga e montei um balanço. Outro dia, quando voltei na casa da minha avó, não achei o balanço, porque ela tinha pegado e jogado fora. Fui lá no lixo pegar as cordas, falei para ela não tirar. Todo dia que eu ia lá, eu balançava e, depois, comia manga do pé.

Keila de Fátima Gonçalves, 12 anos, moradora de Paracatu de Baixo

 

Na casa da minha avó, era cheio de pé de jabuticaba. A gente ficava conversando, eu, lá no pé da árvore, e Aninha, em outro, lá na casa da tia dela. 

Maria Eliza Alves da Silva, 14 anos, moradora de Bento Rodrigues

 

Nunca caí de árvores, sempre tive cuidado para subir e descer. Antigamente, minha mãe vinha entregar em Mariana: ovo, merenda, queijo, essas coisas que ela fazia lá. Aí, ela falou que era para eu ir buscar couve na casa da minha avó. Enquanto minha avó pegava as coisas, eu subi no pé de goiaba e achei uma goiaba grandona, peguei para ir comendo. Demorei por ter subido no pé, minha mãe brigou comigo por causa da demora. 

Laisa Gonçalves Marcelino, 15 anos, moradora de Paracatu de Baixo

 

A fruta que eu mais gostava de Paracatu era jambo. Eu não pedia para subir nos pés de fruta, mas não era roubo, pegava emprestado. Um dia, eu fui subir no pé de jambo de um vizinho da minha vó, só que ele não estava lá, não. Quando ele chegou, ele me viu lá no alto da árvore e me xingou, porque eu não tinha pedido a ele para subir.

Pâmela Eduarda Anacleto, 13 anos, moradora de Paracatu de Baixo

 

Quando eu fazia coisa errada, vinha minha mãe xingando e me batendo, aí eu corria pra cima da árvore. “Desce daí!” Eu respondia: “eu não”. Aí, na hora que ela ficava menos brava, eu entrava em casa, saía de fininho pra ver se ela estava dormindo e ia comer manga verde com sal. 

Ana Luiza Euzébio, 13 anos, moradora de Bento Rodrigues

 

Pior foi uma vez: eu fui na casa da minha tia para apanhar jabuticaba, a sacola tava quase cheia, o galho foi lá e quebrou. Tudo no chão!

Maria Eliza Alves da Silva, 14 anos, moradora de Bento Rodrigues

[/vc_column_text][thb_gap height=”50″][thb_image image=”4735″][thb_gap height=”50″][vc_column_text]Hoje eu não faço isso em Mariana, porque, aqui, a gente não tem o tipo de liberdade que tínhamos lá na roça, de já chegar entrando no quintal dos outros. Aqui é diferente, a gente não conhece os vizinhos e não costuma ter as árvores que tinha lá. Sinto falta, claro. Eu não tinha medo de cair, porque, se caísse, levanta e subia de novo.

Rafaela Kecia da Silva, 16 anos, moradora de Paracatu de Baixo

 

Parece que a fruta é mais gostosa quando a gente come em cima do pé.

Samantha Fernandes, 13 anos, moradora de Bento Rodrigues 

 

É raro comprar, por exemplo, chuchu… A gente não comprava chuchu lá no Bento, sabe? A gente pegava do pé que tinha em casa. Agora, tem que comprar, essa é a diferença, que, antes, pegava de graça…

 Ana Luiza Euzébio, 13 anos, moradora de Bento Rodrigues

 

Aqui em Mariana, eu pedi a uma pessoa uma goiaba, a pessoa disse que eu podia pegar. Enquanto eu subia, as ramas da árvore iam para o lado, ela disse que era para eu pegar a fruta e não quebrar a árvore. Como ela ficou me xingando, não quis pegar, fui embora. Goiaba era a minha fruta favorita.

Laisa Gonçalves Marcelino, 15 anos, moradora de Paracatu de Baixo

 

A gente sente falta de tudo, não tem como sentir falta só de uma coisa, não.

Maria Eliza Alves da Silva, 14 anos, moradora de Bento Rodrigues

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Ocasiões infrutíferas

[/vc_column_text][vc_column_text]Eu nem sei como eu caí do pé de goiaba, só sei que caí. Estava lá em cima e, de repente, estava no chão. Eu tinha uns oito anos, era muito nova. Minha mãe ficou muito preocupada, tiveram que me trazer em Mariana para tirar o pedaço de pau que ficou na minha perna e poderia complicar, tive que fazer cirurgia.. Depois, eu não subi mais nas árvores, mas, quando o pessoal subia, eu ficava lá embaixo para comer as que jogavam para mim. Onde eu morava, era um terreno grande, minha avó morava lá também, então, tinha muitos pés de frutas. Minha prima morava perto, aí a gente ia junto subir nas árvores. Lá tinha pé de goiaba, pé de acerola, pé de jabuticaba… Eu sinto mais falta do pé de acerola, porque é mais difícil achar, já jabuticaba, mexerica, manga dá para achar na feira.

Lucielly Aparecida Lopes Marcelino, 14 anos, moradora de Paracatu de Baixo

 

Eu não gostava de subir em árvore, porque, onde eu morava, só tinha árvore alta, aí, quando eu subia, eu caía, isso foi me dando medo de subir. Ficava com o braço ralado e falava: “ah, não vou subir em árvore nada”. Mesmo eu não subindo, comia as frutas. Nos pés de manga, que eram mais baixos, eu subia. Antigamente, eu gostava de goiaba. Hoje eu não como muita fruta, as frutas da roça são diferentes das daqui. A goiaba que você pega na roça é muito melhor da que você compra aqui, a goiaba de lá era muito boa. 

Weuller de Sousa Cota, 15 anos, morador de Paracatu de Baixo

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