Vinte vidas ceifadas não foram o bastante

Por Sérgio Papagaio

A onda roxa, como várias orientações, decretos e leis no Brasil, salvaguarda setores da economia que melhor se desempenham na acumulação de lucros.

Em Barra Longa, o único município da bacia do rio Doce que teve seu centro urbano atingido pelo rompimento da barragem de Fundão, não foi diferente de outros lugares onde a construção civil foi considerada atividade essencial, já que a lista é regulamentada pelo governo federal. Com isso, a Fundação Renova se vale dessa medida para manter seus funcionários e os de suas terceirizadas em franca atividade no município. Isso coloca, mais uma vez, a população em risco de contágio pelo coronavírus, que já ceifou quatro vidas e contagiou outras 216 na cidade.  

Em entrevista com Fernando José Carneiro de Magalhães, prefeito de Barra Longa, ele afirmou: “apesar de minha preocupação com a saúde dos munícipes, só o Estado é detentor de poderes para decretar quais são as atividades essenciais e, consequentemente, revogá-las”. 

Ao lembrar do grande número de funcionários da Renova e/ou de suas terceirizadas que contribuíram para a disseminação do vírus em Mariana, venho, por meio deste veículo de comunicação, reiterar a preocupação com a possibilidade de contágio em Barra Longa. Isso porque as leis que garantem o funcionamento de mineradoras e empresas de construção civil ligadas a essas mineradoras não se preocupam com nada a mais do que a economia, e colocam a vida em segundo plano. Eu pergunto: 20 vidas ceifadas no ato do rompimento da barragem de Fundão não foram o bastante?