A quem pertencem as imagens?

(Foto: Larissa Helena/Jornal A Sirene)

Por Larissa Helena

Com apoio de Flavio Valle, Karina Gomes Barbosa e Lucas Rafael

Na época do rompimento da Barragem de Fundão, e ainda hoje, a cidade de Mariana recebeu diversos jornalistas, emissoras e curiosos, responsáveis por registrarem em vídeos e fotos não só a destruição, mas também o desespero, o desamparo e o medo da população atingida. Nesses momentos, o objetivo costuma ser frio, pois, na busca pela melhor foto que acompanhe a narrativa trágica, não é percebida a maneira exploradora com que se faz isso. E, apesar da imagem ser o meio que convence o público de que algo aconteceu, captar a dor do outro é uma tarefa sobre a qual é preciso refletir.

Quando visitam as comunidades destruídas, o que encontram vai além da lama, dos destroços e das ruínas. Lá tem uma parede pintada de verde claro, uma janela de madeira com adesivos colados no vidro, um banheiro com chuveiro a serpentina, camas ainda forradas com edredons, enfim, algo que pertence a alguém. Não se trata, então, apenas dos valores de posse desses pertences, mas da história, da memória e dos afetos que eles carregam. Coisas que a fotografia não necessariamente dá conta de capturar.

Será que os jornalistas, ao fazerem suas matérias e fotografarem esses locais, se perguntam como os atingidos se sentem ao verem suas antigas casas na televisão e em jornais? Assistir a dor do outro é diferente? Também, o uso dessas fotografias pretende mudar algo no processo de reparação? Existe, nessa relação, algo próximo a um ideal de justiça para os atingidos?

Quando pensamos no espaço público e privado, a intimidade do lar é a fronteira que nos divide. Após a tragédia, o interior fotografado de uma casa ainda pertence a seu proprietário ou ele se tornou algo a ser conhecido pelo mundo? Independentemente de termos essas respostas, hoje, essa intimidade se tornou pública.

As produções fotográficas feitas sobre o rompimento da barragem de Fundão, muitas vezes, foram e são guiadas por um viés lucrativo, ou seja, buscam captar aquilo que toca e sensibiliza com o objetivo de ganhar audiência e, assim, veicular a venda desses produtos nos meios de comunicação e em circuitos artístico-culturais. E, também nesses casos, em que não há esforço de pesquisa, o que se busca não é necessariamente o novo, mas algo que tenha força e competência como imagem, que seja capaz de falar e contar uma história apenas comovente. Mas essas produções, divulgadas em jornais, revistas, exposições e em publicações diversas, nem sempre voltam para o lugar de onde elas saíram.

Diante disso, qual o papel do interlocutor, ou melhor, seu limite? Como contar uma história respeitando o lugar dos protagonistas? Como explorar visualmente um espaço sem necessariamente invadi-lo? Essas perguntas eu também me faço, sempre, e ainda não encontrei respostas para elas. Mas, tenho aprendido que a melhor saída é escutar a vontade do outro e o respeitar, procurar entender o que aquela imagem significa para ele.