Como era ser criança lá

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Por Andreia Sales, Beatriz Helena, Divino dos Passos, José Carlos da Silva e Kelly dos Santos

Com o apoio de Tainara Torres e Wandeir Campos

Ilustração: Antonio Junior (Alicate)

Relembrar é preservar a memória coletiva e permitir que outras gerações conheçam as nossas histórias. Por isso, no especial desta edição, trazemos relatos dos(as) moradores(as) sobre como era a infância nas comunidades atingidas pelo rompimento da Barragem de Fundão. Nelas, crescemos, construímos nossas vidas e criamos nossos filhos. A cada história contada, voltamos no tempo e lembramos as brincadeiras que aprendemos, os costumes que tínhamos e a vida que levávamos.

Lá na roça era assim

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row css=”.vc_custom_1539356490652{margin-top: 24px !important;}”][vc_column width=”2/3″][thb_border][vc_column_text]– Nós íamos jogar futebol lá embaixo no campo, né, Divino?

– Tinha uns 60 menino: 30 de um lado, 30 pro outro, Zé.

– O que eu gostava era futebol. Único divertimento que tinha.

– Mas não era todo dia, não. Tinha que trabalhar e estudar também. “Cê vai pra escola amanhã?”, o pai perguntava “Vou!” “Chegou da aula e não capinou? Só entra em casa se capinar”, o pai falava.

– Com sete anos, eu tava na pedra, lá em cima, com a enxada.

– Antigamente, era bom. Todo mundo era saudável. Tinha valor e não sabia, né? Tem diferença do que é plantado na roça e do que é plantado na cidade. Por quê? Por conta do agrotóxico.

– Tinha feijão, cuscuz, fubá que a gente moía na hora, rapadura. A vida era difícil na nossa época, mas, se for olhar pela alimentação, nós tínhamos o melhor. O que se come hoje é “porcariada”.

– A nossa comida era diferente da comida dos jovens de hoje. Tinha fartura demais.

– Tudo que o Zé tá falando é a mesma coisa que vivi. A gente ficava tudo ocupado, trabalhando. O que os mais velhos ensinavam pra gente era manter as coisas em ordem e nunca desrespeitar ninguém.

– Eram os irmãos mais velhos que ajudavam a criar os mais novos. Sinto saudade da amizade e união que a gente tinha, né? Pela idade que a gente tem, nem temos contato mais.

– A juventude vai crescendo e desenvolvendo. É igual tecnologia: se você não acompanhar, acaba ficando pra trás.

– Tem pra onde correr mais não, né, Zé?!

José Carlos da Silva e Divino dos Passos, moradores de Paracatu de Baixo

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Das coisas que aprendi

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Passar o anel”, “Caiu no poço”, “Pular corda”, “Vôlei na praça”, “Bola no campinho”, “Pique-esconde”, “Pique-pega”, “Bandeirinha” e “Queimada” eram algumas das nossas brincadeiras. Outras vezes, juntávamos um grupo e ficávamos só conversando até que nossos pais nos chamavam para ir pra casa. Não podia ficar na rua depois das 21 horas.

Andreia Sales, moradora de Bento Rodrigues

[/vc_column_text][/thb_border][/vc_column][/vc_row][vc_row css=”.vc_custom_1539356835895{margin-top: 24px !important;}”][vc_column][thb_border][vc_column_text]– Tínhamos medo do “homem do saco”, dele chegar e levar a gente embora.

– E do gato branco na ponte. Tem a história dos antigos de que, na ponte, aparecia um gato branco, o “Xodó”. A gente ia para a igreja ou reza e, na volta, ficava todo mundo com medo de passar na ponte por causa do gato.

– A gente era terrível naquela época. Pegávamos matinho e ficávamos no escuro passando na perna das mulheres pra fazer medo. A gente pegava o mamão, furava e, dentro dele, fazia desenho de olhos, nariz e boca. Colocávamos uma vela e íamos para a igreja. Quando as mulheres vinham, corríamos na frente, entrávamos no meio do bambu e ficávamos lá segurando a vela com o mamão. Elas ficavam com medo. Tudo pra assustar.

– Era muito bom, né, Kelly?! Hoje, a gente não vê esse tipo de coisa mais não. Hoje, vemos muitas coisas perigosas. As crianças brincam de bicicleta, querem fazer uma rampa, levantar de uma roda só. Às vezes, eles conseguem controlar mas, às vezes, não conseguem, aí caem e machucam. Antes, a gente nem brincar de bicicleta não brincava, porque não tinha.

Beatriz Helena e Kelly dos Santos, moradoras de Gesteira

[/vc_column_text][/thb_border][/vc_column][/vc_row][vc_row css=”.vc_custom_1539358813202{margin-top: 24px !important;}”][vc_column][vc_raw_html]JTNDZGl2JTIwY2xhc3MlM0R2aWRlbyUzRSUwQSUzQ2lmcmFtZSUyMHdpZHRoJTNEJTIyNTYwJTIyJTIwaGVpZ2h0JTNEJTIyMzE1JTIyJTIwc3JjJTNEJTIyaHR0cHMlM0ElMkYlMkZ3d3cueW91dHViZS5jb20lMkZlbWJlZCUyRmFnMXJrUjdJVlM0JTIyJTIwZnJhbWVib3JkZXIlM0QlMjIwJTIyJTIwYWxsb3clM0QlMjJhdXRvcGxheSUzQiUyMGVuY3J5cHRlZC1tZWRpYSUyMiUyMGFsbG93ZnVsbHNjcmVlbiUzRSUzQyUyRmlmcmFtZSUzRSUwQSUzQyUyRmRpdiUzRQ==[/vc_raw_html][/vc_column][/vc_row][vc_row css=”.vc_custom_1539358813202{margin-top: 24px !important;}”][vc_column width=”1/4″][/vc_column][vc_column width=”1/2″][thb_image image=”2650″][/vc_column][vc_column width=”1/4″][/vc_column][/vc_row]