O dia de Gesteira

Por MAB

Fotos: MAB e Daniela Felix

Gesteira foi uma das comunidades devastadas pela lama da Samarco. Foram nove casas destruídas, 11 lotes produtivos na beira do rio Gualaxo do Norte soterrados, um campo de futebol, uma escola, o salão comunitário e a igreja Nossa Senhora da Conceição tornados pasto e ruínas pelo maior crime ambiental do Brasil.

Hoje, os cerca de 60 atingidos que aguardam o reassentamento prometido pela Samarco (Vale/BHP Billiton) há mais de dois anos, estão espalhados entre Gesteira, Barra Longa, Mariana e Acaiaca. São amigos e parentes que foram obrigados a viverem longe um dos outros por causa da irresponsabilidade e da opção política de produzir mais minério e garantir mais lucro para acionistas ignorando condições mínimas de segurança para trabalhadores e comunidades.

Por causa desta situação de distanciamento somada a indignação pelo descaso da Samarco que até hoje foi incapaz de apresentar um projeto viável para reassentar as 9 famílias, os moradores organizados no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) decidiram fazer o Dia de Gesteira: separados pela lama, unidos pela luta.

“É um momento de reunir todo mundo que está separado desde a tragédia, conversar com eles, confraternizar, discutir os problemas e pensar juntos as soluções que envolvem a construção das casas, mas também acesso a água e a solução de outros problemas”, comenta Gracinha, moradora do Gesteira e militante do MAB.

O encontro foi realizado na Quadra de Esporte do Mutirão, a parte alta de Gesteira que não foi destruída pela lama, mas que ficou isolada por 11 dias devido o rompimento e depois exposta a todos os problemas causados pelo canteiro de obras. Ali moram cerca de 60 famílias, entre elas as proprietárias dos 11 lotes à beira do rio que foram soterrados e que também aguardam o reassentamento.

“O Dia de Gesteira foi um momento muito importante. Dia de reafirmar que a organização é o único caminho para garantir o reassentamento. Como que a Samarco já fez 4 barragens abaixo de Fundão, gastou 280 milhões na barragem de Candonga e outros 44 milhões nos 3 reassentamentos e ainda nenhuma casa foi feita?”, questiona Thiago Alves, da coordenação estadual do MAB em Minas Gerais e morador de Barra Longa.

Também estiveram no Dia de Gesteira estudantes da Universidade Federal de Viçosa (UFV), integrantes do Grupo de Pesquisas Socioambientais (GEPSA) da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), do Organon, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), do Jornal “A Sirene” e de técnicos da Cáritas Brasileira, assessoria técnica dos atingidos em Mariana.