Essa foi a pergunta que os(as) atingidos(as) fizeram no dia 27 de fevereiro, data limite para a entrega dos reassentamentos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo. O prazo, no entanto, foi, pela terceira vez, descumprido e as obras estão longe de ser finalizadas. Apenas cinco casas foram construídas no Novo Bento, enquanto, no terreno de Lucila, as obras seguem sem que nenhuma casa tenha sido erguida. O dia, que era para ser de alegria, marca, mais uma vez, a frustração e a desesperança dos(as) atingidos(as) ao verem distante o sonho de voltar para casa. Conforme decisão judicial do Ministério Público de Minas Gerais, a Fundação Renova deve agora pagar R$1 milhão por dia de atraso. Cabe recurso.
Por Ana Paula Ferreira, Arnaldo Mariano Arcanjo e Maria do Pilar
Com o apoio de Joice Valverde

Foto: Joice Valverde
Eu vejo a Fundação Renova agindo de má fé, com uma falta de respeito muito grande com os atingidos. Tem muitas pessoas que já fizeram o projeto, por exemplo, e estão no meio do caminho, enquanto tem muitas outras pessoas que ainda nem sequer tiveram conversas sobre essa questão. Já não basta todo esse terror que o atingido viveu, ainda tem que aguardar enquanto a Fundação Renova decide. E aí o que eles falam: “ah, a pandemia”. Mas espera aí, a pandemia começou no ano passado. E, antes da pandemia, qual o problema que estava acontecendo que tava atrasando? E o pior, o que mais me incomoda é que eles fazem do jeito deles e depois jogam a culpa desse atraso, além da pandemia, no atingido. “Porque o atingido demora pra resolver, porque o atingido demora pra decidir.” É um absurdo, né?
Ana Paula Ferreira, moradora de Bento Rodrigues

Eu acho que a Fundação Renova tá tendo um descaso com os atingidos. Eles estão, querendo ou não, tratando de pessoas. E são pessoas que já tem cinco anos que não têm as suas casas, que estão perdendo as esperanças, são pessoas que falam muito de ter medo de morrer e não conseguir ver as suas casas. E isso é muito perigoso, sabe? As pessoas estão sem esperança de voltarem para suas casas.
Maria do Pilar, moradora de Paracatu de Baixo

Já vai no caminho de seis anos perdidos, sem resposta da impunidade contra a empresa assassina, não temos justiça para pôr os culpados na cadeia. Já vi muitas coisas nesse mundo que a justiça cobra, mas, para esses abutres, ainda não. A minha família não sabe onde vai ser a casa deles, o meu pai está sem esperança de conseguir de volta o que perdeu. Muitas pessoas que tinham esperança de ter a casa de volta morreram e foram sepultadas no antigo Bento Rodrigues.
Arnaldo Mariano Arcanjo, morador de Bento Rodrigues
A Fundação Renova faz do jeito que ela quer, no tempo que ela quer. A justiça estabelece um prazo e eles simplesmente descumprem esse prazo. Eles vão destruindo as pessoas aos poucos, porque tem muita gente ficando doente, né? Eles estão simplesmente acabando com os atingidos. O descumprimento do prazo mostra a falta de responsabilidade e de sensibilidade com o que ocorreu. Eu vejo, igual o meu pai mesmo, muitas pessoas de Bento, Paracatu e dos outros lugares aí que foram devastadas pela lama, falecendo e não tendo a casa novamente, não tendo a tranquilidade de poder deitar, colocar a cabeça no travesseiro e falar: “ó, meu Deus, muito obrigada, isso aqui é meu”.
Ana Paula Ferreira, moradora de Bento Rodrigues