Papo de cumadres: a infância no rio Gualaxo

Consebida e Clemilda lembram, com saudades, da intimidade que tinham com o rio nos tempos de criança.

Por Sérgio Papagaio

– Cumadre, cê lembra quandu nós era criança, as brincadera e u trabalhio no rio de nossa infância?

– Intão num lembru? Nois nu rio nadava, pescava e também trabaiava. Cê lembra que eu tinha apenas dez anu e u tamanhu dus pexe que eu vinha peganu?

– Eu num sei se ocê recorda da promessa que nós fizemu, sentadas naquela pedra que nós duas sempre ficava.

– Cumade, minina de Deus, então eu num haverá de lembrá o que eu disse: “U meu primeiru fio era ocê que tinha que batizá”.

– E eu da mesma forma, continuanu aquela prosa, prumiti pra sinhuria que ocê seria a madrinha de minha primeira fia.

– Cumade, me dá tanta agunia de lembrá daquele dia que a lama sem coração levou a pedra que nós sentava, que os nossos fio e netu levava pra brincá nu rio que nois tudu banhava, pescava, e ainda oru tirava pra ajudá tratá da mininada.

– Cumadre, eu tinha só nove anu. Pra acudi Lucianu que já ia se afoganu, eu entrei nu rio rezanu, mas a água também foi me levanu. Uma senhora negra com uma roupa azú sarvô eu e Lucianu daquela morte marvada. Quandu cheguei em casa, minha santinha Aparicida tava com a capa toda moiada.

– Eu tenhu tanta vontade de vê a mininada sentada na pedra que foi levada com as brincadera e aligria que ainda fazia a gente ser criança hoje em dia.

– Eu tenhu sardade de tudu mas minha maió firida é da minha casa tê idu na lama, levandu juntu com tudu minha Senhora Aparicida. Todu 12 de outubru, na festa que pras criança fizemu, num tem a pedra que pela lama foi cumida nem a Senhora Aparicida.