Fundação Renova impõe fome aos animais atingidos

Por Ellen Barros 

Com o apoio de Geruza Luiza

A Assessoria Técnica denunciou a Fundação Renova ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) por problemas relacionados aos cuidados com animais atingidos. A denúncia construída com as comunidades atingidas diz respeito, principalmente, ao fornecimento de alimentação insuficiente e/ou inadequada, que causa fome e morte de animais, entre outros problemas que configuram graves situações de maus tratos. 

Atingidos relatam que alimentos precisam ser buscados em grandes distâncias ou não são entregues no prazo. A situação se agrava quando se trata de criações de cavalos que precisam comer feno, alimento que a Renova deixa faltar para muitos deles. No desespero, criadores submetem seus cavalos à substituição do feno por silagem, que não é recomendada, pois pode gerar problemas nas articulações e causar prejuízo na locomoção dos animais. Mesmo com essa substituição, os animais ficam gravemente desnutridos e isso tem provocado abortos.

  Em novembro de 2020, os atingidos foram surpreendidos com a informação de que a política de fornecimento do auxílio emergencial da alimentação animal sofreu alterações. A Fundação Renova comunicou que não forneceria o alimento, mas que iria depositar o valor do auxílio em conta do atingido beneficiário. Sob forte crítica das famílias atingidas, em acordo firmado junto ao MPMG, a Fundação recuou, disse que a nova medida se aplicaria apenas para quem assim preferisse e se comprometeu a não deixar faltar alimento para os animais. 

Promessa não cumprida. Em 10 de dezembro de 2020, a Fundação Renova não entregou o trato aos atingidos, alegou que não tinha contratos de fornecimento vigentes e que seria necessário cotação e contratação de fornecedor, entre outras ações que não foram feitas em tempo hábil. Outros casos de desabastecimento foram relatados por atingidos. Ora a desculpa da Renova é caminhão quebrado sem previsão de conserto, ora é a suspensão da entrega do alimento em função da pandemia. Com isso, animais sofrem com a fome, e seus donos com o descaso e a aflição de não terem condições de garantir a nutrição adequada.

  A vulnerabilidade imposta aos animais vem também da infraestrutura dos terrenos em que muitas famílias foram alocadas “provisoriamente”, que apresentam erosões, pastos subdimensionados, problemas com cercas e currais. Além disso, algumas famílias agora vivem à longa distância do local onde foi colocada a criação. A segurança também não é garantida, pois há relatos de roubos de animais e de instrumentos de trabalho.

A Renova ignora a relação entre as pessoas e seus animais. Um exemplo é o caso da família Lins, que se mudou de Paracatu de Baixo em 2019. No suporte para o transporte dos animais, a Fundação abandonou cinco galinhas, uma pata chocando e alguns pintinhos para trás, animais nunca mais recuperados. Essa mesma família relata que não tem recebido a ração para seus animais, mesmo tendo solicitado à Renova. Em consequência disso, os animais estão desnutridos e com baixa produção de leite.

  Animais que foram levados para uma fazenda em Barra Longa, sob responsabilidade da Fundação Renova, também estão em risco. A distância dificulta a convivência dos proprietários com as criações. A promessa da Fundação é a de que os bichos estariam bem cuidados, no entanto, há relatos de atingidos que viram seus animais magros; sem aparo da crina; com casco desgastado; sem doma, o que os torna mais agressivos com o tempo. Durante a pandemia de Covid-19, a impossibilidade de realizar visitas é também um fator de sofrimento. Claudiano dos Santos, atingido de Bento Rodrigues, recebeu foto de um dos seus cavalos que teve ferimentos no olho e ficou cego. Sem explicação adequada, o atingido suspeita que isso tenha ocorrido por esse equino estar no mesmo piquete com outro garanhão, o que não é recomendado, pois os bichos podem se machucar com coices.

Atingidos que enfrentam problemas como esses podem denunciar. Em caso de dúvida, entre em contato com a Central de Informações da Cáritas em Mariana: 31 99218-0264.

Cavalo sob responsabilidade da Renova na Fazenda do Crasto ficou cego após ferimento no olho.