A força do Gesteira

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Gracinha Lima cuida da bananeira que agora agora já precisa de um vaso maior. (Foto: Larissa Pinto/Jornal A Sirene)

Por Gracinha Lima, Gracinha Costa, Vera Lúcia Aleixo

Com apoio de Amanda Gonçalves, Larissa Pinto e Miriã Bonifácio

No dia 5 de novembro, Gesteira recebeu a notícia de que a Barragem de Fundão, em Mariana, havia rompido. Em 1979, a comunidade havia sofrido com uma enchente que alagou grande parte das casas. Quando souberam de Fundão, os moradores se prepararam para uma nova enchente, mas o que chegou foi uma onda de lama que surpreendeu a todos. A partir desse momento, a vida do Gesteira mudou. As mulheres que faziam parte do grupo de orações e frequentavam a Igreja Nossa Senhora da Conceição, do outro lado da ponte, já não conseguem mais, pois, desde o rompimento, o espaço está fechado. Mesmo assim, hoje, com a reconfiguração desse grupo, elas são responsáveis por conseguir manter um pouco dos costumes no local, e também são parte importante do processo de luta pelo reassentamento da comunidade.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row css=”.vc_custom_1530195868881{margin-top: 24px !important;}”][vc_column][thb_border][vc_column_text]

Gracinha Lima

Aqui dentro de Gesteira tinha que ter alguém pra segurar a barra e as mulheres é quem chegam primeiro. No início, tinha muito empecilho, muita gente não queria participar. Até hoje tem gente que fala que isso não vai dar em nada. Mas tá todo mundo trabalhando no coletivo e o que estamos fazendo, graças a Deus, vai dar frutos. Eu sempre ajudei nos eventos da igreja, em barraquinhas. Costumava plantar do outro lado do rio, bem antes da lama, quando a gente ainda não tinha vendido o nosso lote, mas depois disso continuei plantando no quintal da creche. Quando a Renova veio reformar a creche, eles tiraram a nossa plantação sem perguntar de quem era, se eles não tivessem roçado lá, nós ainda tínhamos mandioca e quiabo. Vejo que tem muitas pessoas que foram prejudicadas pelo rompimento e que ainda não estão sabendo. Eu tô na luta junto com eles. Fiz anotações do que as pessoas tinham e que não foi reconhecido. Acompanho tudo das reuniões, fico sempre ligada. Tenho interesse em ajudar as famílias que perderam tudo. Esse meu movimento também é mais por causa da igreja, da escola que a gente tinha. Do outro lado, era a caminhada nossa. Não era a moradia, mas era o plantio nosso, era onde a gente tinha. Essa minha força vem de Deus, porque se eu fosse olhar… Fico aqui, mas largo tudo e vou. Nós, os atingidos, é que temos que lutar. [/vc_column_text][/thb_border][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column width=”1/2″ css=”.vc_custom_1530196135891{margin-top: 24px !important;}”][vc_column_text]

Vera Lúcia agora mora em Mariana. (Foto: Larissa Pinto/Jornal A Sirene)

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Vera Lúcia Aleixo

No dia do rompimento, nós tiramos as coisas boas, televisão nova, máquina de lavar nova, colchão, tudo aquilo eu tirei e achei que tava prevenindo de uma enchente. Mas, quando a gente piscou, a nossa casa já tinha tombado. A gente tá no movimento de luta porque, se eu lutar sozinha, vai ser mais difícil. Se a gente se unir, vai ter mais força, né. Nós não perdemos juntos? Então temos que reconquistar juntos. Pra juntar o povo não foi difícil. Quando a Assessoria (Aedas) chegou, a gente já tava se organizando. E Gesteira era um lugar muito bom, onde produzíamos muito, desde o milho até o feijão. Era dali que tirávamos nosso sustento. E, hoje, não temos como plantar. Na nossa casa, a gente tinha horta, tinha milho, feijão, tinha banana, mandioca, inhame, abóbora e, hoje, não tem nada. No terreno que a gente colhia, agora é areia pura, aquele pó de ferro, que não dá nada. E lá no Gesteira tem muita coisa pra fazer, eles têm que reconhecer muita coisa lá. No reassentamento vai ter que ter igreja, grupo escolar, campo de futebol, fazer tudo, as casas, e ainda sobrar espaço no terreno. Enquanto eu não ver tudo no lugar, eu não vou desistir e eu tenho pressa porque minha idade não permite demora. Que Deus me dê força, mas eu não paro de lutar nunca.[/vc_column_text][/thb_border][/vc_column][/vc_row][vc_row css=”.vc_custom_1530195922037{margin-top: 24px !important;}”][vc_column width=”1/2″][thb_border][vc_column_text]

Gracinha Costa

Parece que foi despedida. Em 2014, fizemos a festa da nossa padroeira, Nossa Senhora da Conceição. Foi uma celebração que louvou tanto que eu nunca vi. Era assim: “Fala de Jesus, usando suas mãos”. E aí acabou com tudo, com a nossa alegria. As mulheres do Gesteira se reuniam, faziam as festas da igreja. A gente trabalhava nas barraquinhas, era tudo unida. Eu sinto muita falta das minhas companheiras de reza que foram para Mariana. E agora a gente quer tudo de volta no reassentamento. Estamos construindo tudo no coletivo, e aqui é assim: as mulheres mais à frente, com a iniciativa. O grupo de oração não está tão forte igual era, mas nós não paramos não, porque a igreja é nós. A gente reza as missas lá na creche, que tá vazia porque não tem menino. E a gente pega mesmo pra fazer as coisas. Eu comecei assim, um dia fui numa reunião e resolvi tomar opinião com uma moça sobre os meus direitos. Ela falou pra eu pegar o microfone e contar para todo mundo que eu tinha um lote do outro lado, na parte atingida pela lama da Samarco. Que eu plantava banana, mandioca de raiz grande, mexerica Ponkan, uma horta completa. Que eu nasci e me criei no Gesteira, casei e criei meus sete filhos aqui também. Eu tinha vergonha de falar e ser criticada, mas, nela dizer que eu tinha direitos, me deu aquela força. Eu comentei assim: eu falo e depois cês falam também. Eu quero muito que, no reassentamento, eu tenha as plantações que eu tinha, para preencher o tempo, principalmente para o Pedro [marido].[/vc_column_text][/thb_border][/vc_column][vc_column width=”1/2″][vc_column_text]

Gracinha Costa recebeu a orquídea como presente da companheira Vera. (Foto: Larissa Pinto/Jornal A Sirene)

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A bananeira

Na casa de Gracinha Lima encontramos uma bananeira que carrega a história dessa luta. Com a chegada da Assessoria Técnica, em um gesto simbólico, o brotinho da planta foi retirado e repartido em quatro pedaços. Um desses pedaços ficou com Maria Geralda, que depois passou o pequeno vaso para Gracinha cuidar. A bananeira é levada para as reuniões dos(as) atingidos(as) de Gesteira e o pé é repassado entre os moradores, para que seja cultivado de forma coletiva. Para essas pessoas, a planta representa a esperança de, um dia, fixarem suas raízes no terreno reassentado, e ainda serve como referência para contar o tempo que essa volta para “casa” ainda vai levar.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][/vc_column][/vc_row]