A SIRENE como direito à informação das pessoas atingidas

Quantas vezes nos deparamos com os depoimentos de pessoas atingidas pelo rompimento da barragem nos grandes veículos de comunicação? Quantos jornais se dedicam à cobertura dos desdobramentos da tragédia de Mariana desde 2015? Quais acompanham o dia a dia das famílias que ocupam os territórios impactados pela mineração? Em outras palavras, quantos e quais jornais contribuem para dar visibilidade, ao longo de seis anos, à luta das comunidades afetadas pelo crime causado pelas empresas mineradoras? Em quais fontes as pessoas atingidas podem confiar e se informar a respeito dos seus direitos? Pensar essas questões nos permite enxergar os espaços de comunicação que, de fato, garantem o direito à informação e a visibilidade dos assuntos que envolvem as pessoas atingidas.

Diferentemente da grande mídia que se volta para o crime apenas no dia 5 de novembro, A SIRENE acompanha o cotidiano das famílias. Nesse sentido, o jornal se consolida como um veículo de comunicação independente e popular, produzido por e para as pessoas atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão, ao longo da bacia do rio Doce. Com uma linguagem diferenciada, que respeita e conserva a fala de seus entrevistados, o jornal cumpre sua função social: ser um canal de comunicação direta sobre as principais demandas do processo de reparação.

Por Andréia Mendes Anunciação, Expedito Lucas da Silva (Caé), Luzia Queiroz, Marino D’Angelo, Marli Maria Gomes Silva e Mirella Lino

Com o apoio de Joice Valverde e Karine Oliveira

O Jornal A SIRENE é muito importante na resolução das demandas dos atingidos, porque ele comentava todos os assuntos que passavam. Todos. E continua sendo importante.

Marli Maria Gomes Silva, moradora de Gesteira

Ele é uma das demandas dos atingidos, porque o atingido quer continuar sendo bem informado. 

Andréia Mendes Anunciação, moradora de Barra Longa

O jornal, para nós, atingidos, é como um documento, um manual que contém informações verídicas que vêm do próprio atingido na íntegra e com o linguajar próprio e único. Hoje é também uma fonte de pesquisa, tanto como jornal impresso, quanto como virtual. É a nossa identidade. Eu mesma já fiz apresentações e usei as fotos e o material rico, para que quem não esteve conosco entenda a verdadeira realidade.

Luzia Queiroz, moradora de Paracatu de Baixo

Para que as coisas se resolvam de fato, é necessário que se garanta o direito à participação dos atingidos, da parte que foi violada, e que, muitas vezes, nos espaços mais institucionais não tem tanto. E o jornal cumpre essa função de informar as pessoas, de mostrar o outro lado dessa história, que tem bastante peso, bastante impacto, que é difícil de ser reparada. Não é qualquer indenização que dá pra resolver isso, restabelecer esse modo de vida, essa coisa imaterial que foi perdida, e que é muito difícil de ser valorada, por exemplo, em uma audiência. Então, continuar mostrando essa face e levando informação para as pessoas que são parte desse processo é uma fórmula que a gente precisa manter para que as coisas caminhem para a resolução.

Mirella Lino, moradora de Ponte do Gama 

O jornal deve continuar existindo, porque é um instrumento de confiança que traz a nossa realidade, que traz denúncia. Ele não é aquele jornal preso, ele é um jornal em que a gente se sente livre a dizer aquilo que a gente deseja dizer. A linguagem é do jeito que a gente fala, se a gente fala errado, é só um reajuste ali na palavra para entender, mas não para desviar, ficar repetindo a mesma coisa várias vezes para sair do jeito que o jornalista quer. N’A SIRENE não tem isso, chega numa abordagem tranquila, se as pessoas quiser falar, fala; se não quiser, dá um tempo. Então, eu acho isso muito importante, por isso que acho que ele deve continuar existindo, porque é um instrumento de comunicação e todos nós devemos ter o direito à comunicação. Ele é um instrumento de confiança.

Expedito Lucas da Silva (Caé), morador de Bento Rodrigues 

O Jornal A SIRENE deve continuar existindo para que a gente consiga manter o direito à informação que o jornal cumpre e também para a gente conseguir manter essa proposta de contar o que mais se perdeu, além dos imóveis que foram atingidos de lama, a face mais sensível. Pra gente que vive isso todo dia, durante esses seis anos, não conseguimos esquecer, é uma marca muito grande. Mas, para as outras pessoas, isso não aparece. Muito pelo contrário, o que aparece é que a gente tá muito bem de vida, o que não é verdade. Então o Jornal A SIRENE, mantendo essas duas funções pra gente, é de suma importância para que a gente consiga ter o mínimo de justiça nesse país.

Mirella Lino, moradora de Ponte do Gama

O Jornal A SIRENE, desde a sua criação, é um instrumento que retrata a realidade dos atingidos, trazendo, em suas matérias, a verdade e o perfil dos próprios atingidos. Para mim, durante esses seis anos, ele representa a nossa voz, para tentar gritar a falta de justiça que a gente sofre até hoje. A SIRENE deve continuar existindo, porque acabar com o jornal é calar a voz dos atingidos, cometendo mais uma injustiça.

Marino D’Angelo, morador de Paracatu de Cima