Boy, o artesão reconhecido pela população e ignorado pela fundação

Fabiano Mendes, conhecido na cidade de Barra Longa carinhosamente como Boy, é artesão e teve sua arte de esculpir madeira totalmente prejudicada pelo rompimento da barragem da Samarco, ocorrido em 5 de novembro de 2015.
Em uma conversa com Boy, ele fez um relato emocionado do drama enfrentado após o crime da Samarco, Vale e BHP.
Por Fabiano Mendes (Boy)
Com o apoio de Sérgio Papagaio

“Como o meu trabalho não é um bem de primeira necessidade, as pessoas viam minha arte, gostavam, mas não compravam. Todos estavam apavorados com o resultado do rompimento da barragem e ninguém pensava em comprar minhas obras, que tinham, como carro-chefe, móveis e esculturas de madeira. Por um longo período de tempo, cheguei a me preocupar com a fome, em como iria sobreviver sem renda. Tive o meu psicológico abalado, o que muito afetou a minha arte criativa.
Umas das principais atividades de lazer que desenvolvíamos era acampar nas margens dos rios Carmo e Gualaxo do Norte. Após o rompimento, essa atividade se tornou impossível, dado o medo da contaminação e pela destruição de suas margens. Me lembro, com muita saudade, de uma vez que, para mim, foi a mais especial de todas as vezes que acampamos, pois fomos acampar e não levamos comida. Esse era o desafio, ficamos um final de semana sobrevivendo de peixes, banana e outras frutas que as margens do rio nos ofereciam. Hoje não tem mais fruta nas margens dos rios, mas, se tiver, alguém teria coragem de comer? E os peixes, agora contaminados, como consumir? Até o nosso lazer, algo saudável e barato, a Samarco nos tirou, mudando por completo nossos modos de vida e o nosso prazer.
E, para viver, tempos depois, tive que enfrentar de moto a estrada do Gesteira para desenvolver algum trabalho que pudesse garantir minha sobrevivência. Inalando poeira e, quando chovia, barro com rejeito que, mais tarde, descobri que estava contaminado, isso explica a minha dificuldade respiratória.
A Fundação Renova não me reconhece como atingido. O que mais preciso sofrer para ser considerado atingido?”
Fabiano Mendes, morador de Barra Longa