Editorial (março/2022)

Chegamos a março de 2022 inundados e inundadas por notícias sobre pandemia, guerra, perda de direitos. Em cada canto do mundo, alguém enfrenta uma batalha diariamente. Quem foi atingido e atingida pelo rompimento da barragem de Fundão está entre essas pessoas que lutam por um direito que deveria ser básico: reparação.

 Deveria, mas não é. Samarco, Vale, BHP e Fundação Renova têm colocado obstáculos a cada etapa desse processo. Negam a culpa pelo crime. Negam o reconhecimento do dano. Negam as obrigações. Se negam a restituir as perdas. Quando os reassentamentos foram definidos, empreiteiras contratadas, projetos elaborados e obras iniciadas, parecia que algo iria, finalmente, avançar.

E, no entanto, não avança. Não há perspectiva de quando as comunidades de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo serão reassentadas. No país com um dos maiores setores de construção civil do mundo, cada parede parece levar um tempo interminável para ser levantada, testando a paciência e a inteligência das pessoas atingidas. Atraso atrás de atraso, desculpa atrás de desculpa. No “crime sem culpados” cometido contra milhares de pessoas ao longo da bacia do rio Doce, ninguém se responsabiliza por nada.

Tanto entrave, tanto enfrentamento, há tantos anos, cansa. Cansa demais. Resistir exaure, esgota o corpo, esgota a alma, consome tempo e nossas emoções. Mas é ela, a resistência, que tem permitido todas as conquistas das pessoas atingidas desde novembro de 2015. É a resistência que vai impedir as empresas de escaparem ilesas do crime que cometeram. É a resistência que vai garantir a reparação.

E a resistência só é possível com a esperança: exercida a cada dia, quando as pessoas atingidas cobram o andamento de obras atrasadas, quando demandam direitos perante o Poder Judiciário, quando produzem relatos sobre o acontecimento, quando teimam em afirmar a importância de suas vidas e seus direitos. 

Para o Jornal A SIRENE, essas duas palavras guiam cada edição e nos fazem ter a convicção de que a luta, por mais cansativa que seja, compensa. Na esperança, apoiamos nossa resistência.