Editorial (Junho/2022)

Jornais A SIRENE pendurados em um varal

As pessoas atingidas chegam a junho de 2022 na expectativa de, mais uma vez, negociarem seus direitos com Samarco, Vale e BHP, com a repactuação. Quase sete anos depois do crime, ainda tentam receber uma reparação justa por parte das mineradoras, mas sequer foram chamadas à mesa para falarem em nome próprio, ainda que tenham sido elas que sofreram e sofrem na pele e na alma as consequências da ganância, do descaso e das violações cometidas pelas mineradoras desde 5 de novembro de 2015 até hoje, todos os dias.

Para a Justiça brasileira, as populações atingidas são ouvidas por meio de outras pessoas (defensorias e Ministério Público), e as demandas sempre são mediadas por outras vozes. Foi preciso, a quem negocia a repactuação, pisar no território para escutar e entender a dor e a luta que têm sido, há quase sete anos, a tônica das existências dessas comunidades.

A dificuldade em fazer valer a voz de quem deve estar no centro dos processos de reparação é diária. É preciso gritar para garantir a localização do cemitério onde deve ser, para cuidar das estradas que garantem o acesso aos territórios de origem, para protestar contra novas investidas da mineração em Minas Gerais, para exigir o cuidado dos animais.

Mas as tentativas de abafar as vozes de quem narra, há tantos anos, os horrores das violências das mineradoras não calam — nem vão calar — as pessoas atingidas. Em mobilizações, protestos, conquistas, demandas, eles e elas serão ouvidos, serão ouvidas. E qualquer processo de reparação dos danos e das violências do crime das mineradoras deve colocar essas vozes no centro, para fazer justiça de verdade.

É nisso que nós, do Jornal A SIRENE, acreditamos. É a partir de onde pautamos nossa atuação: em colocar no centro do jornalismo a escuta das vozes das pessoas atingidas, para que narrem suas histórias, relatem suas perspectivas sobre os acontecimento. Sejam ouvidas. 

Que a Justiça brasileira faça o mesmo ao buscar a repactuação. Que as perguntas das populações atingidas sejam escutadas. Que alguém seja, finalmente, capaz de responder: quem vai pagar pelo crime do rompimento da barragem de Fundão? Quando? Como?