Como será a escola nova?

Quando foi realocada para Mariana, a Escola Municipal (E.M.) de Bento Rodrigues enfrentou muitos desafios. Inicialmente, ocupava, junto com a E.M. de Paracatu de Baixo, um turno livre da E.M. Dom Luciano de Almeida. Desta forma, por um tempo, as três escolas dividiam o mesmo espaço. Assim que puderam, enfim, se reunir em uma escola própria para os(as) alunos(as) de Bento em Mariana, a principal motivação da equipe de profissionais da escola passou a ser fazer do ambiente um espaço para o que era mais importante naquele momento: a proximidade e a união entre as pessoas atingidas. No território, os(as) alunos(as) e profissionais que trabalhavam na escola eram também vizinhos ou parentes. Por isso, a nova escola construída no reassentamento, apesar de já estar pronta, não deve abrir as portas até que todas as demais obras sejam concluídas. “Mas e as casas dos alunos?”, questiona a professora Maria do Carmo Silva da Conceição, moradora de Bento Rodrigues, que foi retirada do território como os(as) alunos(as) e sonha em voltar com eles para a escola construída no Novo Bento. Carminha, como é carinhosamente conhecida, nos fala sobre a sua relação com a comunidade, a Educação e a escola de Bento Rodrigues.

Por Maria do Carmo Silva da Conceição

Com o apoio de Joice Valverde

O moderno prédio que abrigará a EM de Bento Rodrigues contrasta com a obra inacabada do reassentamento | Foto: Joice Valverde

Sou professora do 2o ano do Fundamental I e trabalho na Escola Municipal Bento Rodrigues há nove anos. Para mim, trabalhar na comunidade do Bento foi muito importante na minha vida, foi maravilhoso, porque o que não faltava nas pessoas lá era a humildade, a honestidade e o caráter. Até hoje, eu trabalho na escola da comunidade, em Mariana, e ainda convivo com várias pessoas, né? Pais, alunos que, pra mim, são pessoas maravilhosas.

Agora, a escola do Novo Bento está pronta, tudo bem, mas e as casas dos alunos? Se tiver, são umas seis ou sete casas prontas. Nós combinamos que, quando fôssemos pra lá, a gente queria todo mundo junto. Eles falaram que, até o final do ano, vão entregar umas 60 e poucas  casas, mais ou menos. Tô dando exemplo. Aí, como vai funcionar a escola? E os outros? Então, enquanto não tiver todo mundo lá, em suas casas, não vai poder funcionar a escola, né? A escola tá lá, muito boa, gostei, pelo que eu vi, uma escola moderna. Há pouco tempo, eu fui lá, mas só vi de longe, do prédio mesmo eu vi foi só o projeto. Não deu pra entrar lá, mas ainda quero fazer essa visita. Nossa, é meu sonho! Até conversei com a diretora que o dia que ela fosse fazer uma visita pra ela me levar, porque eu quero muito conhecer a escola. 

No final do ano agora, lá pra novembro, talvez eu me aposente. Eu fico triste, porque eu queria tanto, né? Meu sonho era estar na escola e ver a carinha dos meninos chegando. Nossa, pra mim, não tem coisa melhor que ver eles chegando pra conhecer a escola, como no primeiro dia de aula. Ai, nossa, ia ser bom demais! Mas tá meio difícil, né? Posso não estar trabalhando lá, mas, pelo menos, vou realizar esse meu sonho que é de ver a carinha deles chegando com aquele sorriso, abraçando e felizes por estar na escola nova. 

Maria do Carmo Silva da Conceição, moradora de Bento Rodrigues

Os desafios do ensino remoto durante a pandemia

O distanciamento social imposto pela pandemia da Covid-19 é uma realidade que requer, novamente, a adaptação da Escola Municipal Bento Rodrigues. Os(As) professores(as) e os(as) alunos(as) estão aprendendo juntos a lidar com novas ferramentas de ensino, agora no ambiente digital. De fato, o ensino remoto rompe com o lugar físico da sala de aula. Seja no território ou em Mariana, as aulas presenciais não aconteceriam nesse momento. No entanto, apesar de distantes fisicamente, a relação de comunidade entre os(as) alunos(as) e os(as) professores(as) permanece sendo a motivação para continuarem juntos. 

Com a pandemia, vieram vários desafios, porque não houve nenhum tipo de planejamento para o ensino remoto. Justamente porque ninguém iria imaginar também que a gente ia passar por algo assim. E se adaptar a essa nova realidade não foi nada fácil. Nós, professores, tivemos que “nos virar nos 30” para adaptar o currículo escolar presencial para o ensino remoto. Isso foi de uma hora pra outra, né? E aprender também a utilizar ferramentas digitais, como Zoom, Google Meet etc., sendo que muitos de nós não tínhamos contato prévio com elas. Foi no meio disso tudo que eu aprendi a melhor maneira de transmitir o conteúdo e manter a atenção dos alunos, o que está sendo um grande desafio também, porque trabalhar presencialmente é outra coisa, de longe fica tudo mais difícil. A gente tenta fazer o possível, mas fica assim: será que realmente eles estão aprendendo? Dá vontade de ensinar mesmo de perto, sabe? A gente fica ansioso por isso.

Maria do Carmo Silva da Conceição, moradora de Bento Rodrigues