Rotina, atividades e lazer: o dia a dia dos(as) estudantes de Paracatu de Baixo no ensino emergencial remoto durante a pandemia de COVID-19

Desde o início da pandemia de COVID-19, em 2020, estudantes de Paracatu de Baixo, assim como alunos e alunas de todo o Brasil, precisaram deixar o espaço físico da escola e passaram a frequentar as aulas de forma ***online. Esses(as) alunos(as) já haviam passado por um processo de perda do ambiente escolar, seis anos antes, ao terem seu subdistrito atingido pelo rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, Vale e BHP. Suas casas, seu novo distrito e a escola nova ainda não foram entregues pela Fundação Renova, por isso, eles(as) e suas famílias continuam aguardando o reassentamento enquanto moram provisoriamente na sede de Mariana.

Na pandemia, a educação passou por muitas mudanças. As escolas públicas mineiras adotaram uma apostila chamada PET (Plano de Estudo Tutorado), que contém atividades das disciplinas da grade curricular de cada ano letivo. A resolução dos exercícios passou a ser feita com os(as) professores(as) de forma online.

Em 2021, ainda em suas casas, mas se aproximando de um possível retorno ao ensino semipresencial, as crianças e os adolescentes relataram ao programa de extensão Sujeitos de Suas Histórias, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), e ao Jornal A SIRENE os percalços enfrentados, o que fazem para se divertir e a experiência do ensino remoto até aqui.

Por Maria Emília de Sousa Silva, Luiz Felipe da Cruz e João Victor Angelino

Com o apoio de Lavínia Torres, Victória Silva e Oliveira, Luciana Drummond de Carvalho, Karina Gomes Barbosa e André Luís Carvalho 

Fotos tiradas pelos(as) estudantes da Escola Municipal de Paracatu de Baixo

Para vocês, quais as principais diferenças entre o ensino presencial e o ensino remoto?

O número de aulas na semana, a interação social, o aprendizado. Teve algumas matérias, como Matemática, que a gente ia aprender o conteúdo só no 9º ano e apareceu no 8o. Se os professores passassem os exercícios, não seria assim.

Maria Emília de Sousa Silva, 13 anos, 8° ano

Primeiro que, no recreio, a gente brincava com os colegas e, em casa, não, é só ajudando a mãe. Dentro de casa, é só fazer a atividade que a professora manda e acabar na hora que quiser, e na escola tinha tempo. Também na escola tinha a hora de lanchar e, em casa, a gente come na hora que quiser, mexe no celular na hora que quiser. Na escola, a gente ficava de castigo e não participava do recreio se fizesse bagunça. E, no Dia das Crianças, tinha lembrancinhas para as crianças. Em casa, só as famílias que dão.

Luiz Felipe da Cruz, 12 anos, 7° ano

Onde e como você costuma assistir às suas aulas? Você estuda em um ambiente silencioso?

Eu assisto no meu quarto, tem uma mesinha em que eu ponho o PET, e assisto no tablet ou no celular. Os equipamentos são meus, mas, quando estou aqui em Mariana, aí eu divido com meu primo nas aulas. Quando estou em Mariana, o meu quarto é silencioso, mas, quando eu estou na roça, de manhã, tem a máquina de fazer ração na época da seca, e aí faz barulho. No [ensino] remoto, eu passo a semana na roça e, só de vez em quando, volto em Mariana. Minha mãe até instalou internet lá na roça pra assistir às aulas. Quando não tinha coronavírus, eu não gostava de ficar na roça, mas agora eu gosto.

Luiz Felipe da Cruz, 12 anos, 7° ano

Eu estudo na sala, aqui do lado do meu quarto, e vejo aula pelo computador. Como tem eu e minha irmã, às vezes, antes das aulas começarem, ela assiste [no mesmo computador] e também tem umas chamadas de vídeo que ela participa com os professores. Eu consigo me concentrar muito bem, mas é mais ou menos silencioso. De tarde, começa a ter mais barulho por causa de ônibus e caminhões na rua, mas dá pra concentrar.

Maria Emília de Sousa Silva, 13 anos, 8° ano

A que horas você faz os seus deveres e a que horas pode se divertir?

Eu não tenho hora, depende do dia. Eu faço os deveres que a professora manda, aí vou mexer no celular e, quando ela pede pra entregar, eu mando pelo WhatsApp. No presencial, tinha um horário mais certo para as matérias, porque a gente trocava de sala. E, se não entregasse, tinha que levar pra casa pra acabar!

Luiz Felipe da Cruz, 12 anos, 7° ano

Eu não gosto de ficar com muita atividade acumulada, então ou eu adianto o dever, ou eu faço assim que a aula acaba, ou à noite. Eu prefiro fazer depois da aula, porque, como é muita matéria, pode virar uma bola de neve. No presencial, eu estudava de tarde e tinha balé à noite, então eu fazia dever só no outro dia de manhã, ou depois que meu balé acabava, lá pras nove e meia.

Maria Emília de Sousa Silva, 13 anos, 8° ano

O que você acha das aulas online?

Não tem como não gostar, porque, se não gostar, não dá pra fazer bem-feito. Assim, no começo estava sendo muito difícil, mas aí a gente vai acostumando porque, se a gente não fizer, vai ficar muito atrasado. Eu não tinha esse costume de ficar assim o dia inteiro na frente do computador, fazendo atividade, então tive muita dor de cabeça, aí foi melhorando. E agora o meu cérebro acostumou e está normal, está tranquilo. No começo estava muito pesado.

Maria Emília de Sousa Silva, 13 anos, 8° ano

É bom, né?! A gente aprende a corrigir os deveres, tem certeza se o dever tá certo, mas eu preferia aula presencial. No começo foi bem ruim, quando eu soube que ia ter que ficar em casa e não ir pra escola, eu senti raiva, porque tinha que ficar fazendo PET, ter aula online e ficar preso dentro de casa.

Luiz Felipe da Cruz, 12 anos, 7° ano

Por mim, de vez em quando, é meio chato, de vez em quando, é meio bom, é tudo mais ou menos!

João Victor Angelino, 12 anos, 7° ano

O que você faz em casa pra se divertir?

Em Mariana, eu só fico no celular. De vez em quando, minha mãe deixa eu brincar na rua. Na roça, a gente nem se diverte, porque é uma casa longe da outra e só eu que moro lá de menino pequeno. Eu só fico ajudando meu tio mesmo, andando no meio das matas, andando de cavalo… E tomando banho de rio.

Luiz Felipe da Cruz, 12 anos, 7° ano

Eu uso mais o celular, então eu fico olhando o celular. De vez em quando, faço uma coisa ou outra, ajudo minha mãe aqui em casa. Aí a gente vai indo assim, né? De vez em quando, eu desenho e, outras vezes, vou jogar com os meninos que jogam bola na minha rua.

João Victor Angelino, 12 anos, 7° ano

Eu, às vezes, faço desenhos para entreter, aí eu vejo negócio no YouTube, fico ouvindo música, desenhando, assisto filme com meus amigos por videoconferência. Aí o que tem a internet melhor, a gente passa a senha da Netflix pra ele, apresenta filme pelo Zoom, assiste filme junto. É uma interação, porque, como a gente não pode se encontrar, por videoconferência é muito melhor do que conversar por WhatsApp. Porque, assim, você pode conversar com a pessoa em tempo real. Mas eu também assisto muita série e faço balé também pra ocupar a mente.

Maria Emília de Sousa Silva, 13 anos, 8° ano

Você sente falta do presencial? Do que você mais sente saudade?

Da Educação Física. [Sinto falta de] jogar bola, jogar vôlei.

Luiz Felipe da Cruz, 12 anos, 7° ano

Educação Física era a pior aula que eu tinha, só ficava olhando os outros fazendo e eu sentado. Eu não podia [fazer] mesmo. Eu ficava jogando dama, por causa do campeonato que ia ter, de dama. O problema é que, no dia que eu ia pro campeonato de dama, aconteceu a pandemia, aí eu não fui e fiquei com mais raiva ainda.

João Victor Angelino, 12 anos, 7° ano

Eu não tenho uma matéria preferida na escola. Na aula online de Educação Física, a gente não tá fazendo todas as atividades igual fazia, né? Agora tá tendo mais atividades separadas pra fazer, atividades teóricas.

Maria Emília de Sousa Silva, 13 anos, 8° ano