Quantas escolas o rejeito destrói?

A escola feita pela Renova, inaugurada em 7 de dezembro de 2016, para dar assistência educacional à população de Gesteira depois que a antiga sede foi destruída pela lama de rejeitos, foi fechada pela Defesa Civil em meio à pandemia, na época das chuvas, por problemas de estrutura. Goteiras e rachaduras afastam crianças dos estudos. Agora, meninos e meninas têm de acordar de madrugada para se deslocar até a comunidade mais próxima, de Taboões, a cerca de 10km de Gesteira, para estudar. 

Por Vera Lucia Aleixo e Marli Gomes Silva

Com o apoio de Maria Eduarda Alves Valgas, Stephanie Geminiani e Simone Silva

“Eu, como sempre, acho isso um absurdo, não ter uma autoridade para estar retornando essa escola para a comunidade, sendo que tinha uma escola de primeira qualidade. A Renova veio e construiu uma escola que não tem estrutura, não teve uma duração para as crianças da comunidade, foram mais ou menos três anos só. O povo tá saindo do território, porque estão achando isso muita dificuldade para a criança, né? As crianças têm que acordar de madrugada para ir para outra comunidade estudar, elas voltam tudo cansada, dormindo na van, é muito cansativo. Eu acho um absurdo que não tenha ninguém para levantar essa pauta para reconstruir a escola o mais rápido possível. Sete anos esperando é muito triste. 

Foto: Marli Gomes Silva

Eu já fui cantineira e trabalhava na escola, me aposentei. Vejo como uma prioridade para a comunidade a escola retornar o mais rápido possível, é muito cansativo, tanto para o aluno quanto para a família, as crianças, os pais preocupam. Era uma escola muito bem equipada e, hoje, a gente vê uma comunidade sem escola, as pessoas querendo retornar para o território, mas não têm como, porque os filhos precisam estudar. Isso é uma dificuldade muito grande, está impedindo que as pessoas retornem e tá levando as pessoas a tomar essa decisão de ir para fora. Isso tudo por causa desse crime, dessa lama que veio destruindo tudo, rompendo com tudo da nossa vida, da nossa história.”

 Vera Lucia Aleixo, moradora de Gesteira

Foto: Karine Carneiro

“Ai, nossa escola, bonita, né? Não tem aluno, tá fechada, os alunos têm que sair daqui para ir estudar em outra comunidade, uma pouca vergonha. A escola é linda, mas, no mesmo instante que chove aqui fora, chove lá dentro, serviço malfeito que a Renova fez. Quando precisamos utilizar para alguma coisa, uma reunião, não pode, muita gente impede, não podemos nem pegar a chave para ter acesso. Quando tinha a outra escola, a gente usava ela quando quisesse, era só pedir e tinha o salão ao lado também, que dava para fazer tudo. Hoje temos que fazer do lado de fora, na quadra, e a quadra também está cheia de esgoto, porque é um pouco caso com a nossa comunidade. Toda vez que a gente precisa de usar, eles não entregam a chave e, quando entrega, é na má vontade, uma confusão, falam que precisa de uma autoridade, aí fica lá fechada, para quê? Igual museu fechado. De museu já basta o Gesteira lá embaixo, que a lama derrotou, detonou tudo, a outra escola, igreja, e hoje aqui não tem nada para usar, para fazer uma reunião.” 

Marli Gomes Silva, moradora de Gesteira