Alunas de Bento Rodrigues saem vitoriosas da Olimpíada Nacional em História do Brasil

Estudantes de Bento Rodrigues estudam em mesa redonda na biblioteca

Kelly e Lavynia, do 9o ano, e Laura, do 8o, estudantes da Escola Municipal Bento Rodrigues, participaram, com a orientação de sua professora Silvany Diniz Ferreira, da Olimpíada Nacional em História do Brasil – Aberta para Todos, promovida pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). As meninas chegaram à final e levaram, como prêmio, bolsas de iniciação científica individuais de R$ 100 por mês, durante um ano, concedidas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A competição teve quatro etapas com provas e atividades diversas, até novembro. Na última, elas falaram sobre a Igreja de São Bento, patrimônio histórico e cultural da comunidade destruído pelos rejeitos da Samarco, Vale e BHP. O convite para participar veio da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), por meio do projeto de extensão “As escolas de Mariana e a Olimpíada Nacional em História do Brasil”.

Por Kelly Mary Chaves, Laura Alves Dias, Lavynia Beatriz Felipe Silva e Silvany Diniz Ferreira
Com o apoio de Stephanie Locker Geminiani

Fotos: Maria Eduarda Alves Valgas

“Um amigo meu da UFOP me falou sobre as Olimpíadas, que era um projeto legal. Nós participamos no início do ano da ONHB14 [Olimpíada Nacional em História do Brasil 14] e fomos até a quarta fase. Foi a primeira vez que estudantes de Mariana foram até essa fase. No fim do ano, teve essa Olimpíada aberta, para quem quisesse participar, a ONHBA2, que tem a categoria ‘escola pública’. É uma Olimpíada nacional, começou com 5.000 pessoas. Os 400 melhores ganhariam uma bolsa de 100 reais por um ano. As meninas quiseram e, quando ficaram sabendo, vieram atrás de mim. Na quarta fase, a tarefa era escolher um patrimônio da localidade e as meninas escolheram a Igreja de São Bento, que foi destruída pelo rompimento da barragem. A princípio pensamos na Igreja das Mercês, mas elas queriam a de São Bento, tem mais significado para elas. Elas foram ousadas de colocar como patrimônio algo que já estava no chão. De noite, no dia de entregar essa tarefa, o site começou a dar problema e a gente ficou morrendo de medo de não ter como enviar. A Kelly ficou até 1 da manhã tentando. No final, fomos aprovadas. Elas fizeram todas as fases, eu ajudava e discutia, mas quem ‘batia o martelo’ eram elas. Elas ficaram super empolgadas, motivadas a conhecer o mundo da História. É uma Olimpíada da Unicamp, nacional, e elas foram até a última fase. Eu senti que elas tiveram maior interesse pela História, depois das Olimpíadas, maior curiosidade, mais atenção. As provas não são fáceis, elas precisam realmente pensar por elas, não é nada óbvio. E elas vestiram a camisa, foram atrás, se aprofundaram no assunto, mergulharam nas tarefas. A UFOP deu uma oficina de Paleografia para auxiliar as meninas. É muito desafiador, o mais interessante é que elas realmente se interessaram nos desafios e foram vitoriosas!”

Silvany Diniz Ferreira, professora de História da Escola Municipal Bento Rodrigues

“Eu participei pela experiência de algo novo, foi indo e eu fui gostando, a gente vai aprendendo junto e é muito gostoso de fazer. A experiência é muito boa, mas também cansa um pouco. Mas, no cansaço e na emoção de estar fazendo tudo, você até esquece que cansa ou que, às vezes, é difícil. Foi bom, porque, como a gente participou da anterior, vimos que nosso esforço na anterior ajudou muito nessa. Foi muito bom ver que a gente evoluiu, aprendeu, eu gostei demais. A gente falou sobre a Igreja de São Bento, porque a gente cresceu lá, metade das nossas vidas foi lá, e como a igreja representa muito Bento, mais gente deveria saber dela. Os monitores da UFOP também foram essenciais nas etapas, ajudaram muito a gente, eles também fazem parte disso.”

Lavynia Beatriz Felipe Silva, moradora de Bento Rodrigues

“Foi a professora Silvany que me falou sobre a Olimpíada, o projeto de extensão da UFOP e me chamou pra participar. Eu gosto muito de procurar oportunidades extracurriculares para o meu currículo estudantil, então, quando tem uma oportunidade como as Olimpíadas, eu gosto. É um pouco cansativo, a ONHB tem muitos textos e a gente tem que ler todos eles, mas é uma experiência muito legal e inspiradora pra gente participar de novo. Essa foi a segunda vez que participamos e é um incentivo que a gente tem, é uma experiência muito legal, muito abrangente. Eu esperava que a gente fosse chegar até o final, porque veio com a bagagem muito boa da Olimpíada anterior. Ser reconhecida, saber que fomos uma das três melhores equipes do 9o ano no nosso estado foi sensacional, muito incrível! A gente teve que desenvolver um pensamento crítico para as questões da ONHB, isso foi essencial. A gente tem que democratizar o acesso às Olimpíadas no Brasil, não é todo mundo que conhece, e é uma oportunidade muito enriquecedora.”

Kelly Mary Chaves, moradora de Bento Rodrigues

“A ONHB é uma experiência educativa muito gratificante, você se diverte, ganha novos conhecimentos, uma nova visão sobre a história, se enturma, trabalha em equipe, isso aproximou muito a gente. Eu pretendo participar das próximas Olimpíadas, é maravilhosa a experiência. A minha família sempre foi muito ligada às festas de São Bento, eles ajudavam a planejar as missas, então, depois que a barragem estourou, minhas tias vão sempre lá, elas têm a chave da igreja, continuam organizando as festas. Então, quando Silvany falou que íamos fazer o texto sobre a Igreja de São Bento, me ofereci de procurar fotos, a história da igreja e aí fomos desenvolvendo. A maior surpresa da ONHB foi ela ter acabado e a gente pensado que não tínhamos ganhado a bolsa, quando abrimos nosso e-mail, descobrimos que ganhamos a bolsa de iniciação científica, todo mundo surtou, foi gratificante.”

Laura Alves Dias, moradora de Bento Rodrigues