Reaprender
Paulo Freire escreveu em Pedagogia da Autonomia que “onde quer que haja mulheres e homens há sempre o que fazer, há sempre o que ensinar, há sempre o que aprender”. Desde o dia 5 de novembro de 2015, comunidades que tiveram seus territórios devastados pelo rejeito minerário da barragem de Fundão têm reaprendido muita coisa da vida. Aprendizados indesejados, forçados pelo crime (ainda impune) cometido por Samarco, Vale e BHP.
A educação é uma das esferas da vida que tem sido desafiada a ensinar e a aprender ao longo desses oito anos. Lições que acontecem nas escolas das comunidades, ao lado de meninos e meninas atingidos e atingidas, muitos dos quais ainda se lembram, com terror, daquela tarde chuvosa de novembro. Experiências compartilhadas por professores, professoras e equipes escolares, pelas famílias, por quem acompanha há anos os impactos de Fundão. Quem chegou ao mundo como criança e entra na vida adulta como atingido e atingida passou pelo trauma do crime, por constantes trocas de escola, pelo preconceito.
Nesta série especial sobre educação, o Jornal A SIRENE vai mostrar como as comunidades de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo, Barra Longa e Antônio Pereira têm reaprendido a aprender, a ensinar, a viver. Ao longo de quatro semanas, iremos narrar histórias de sujeitos que tiveram sonhos alterados pelo crime-catástrofe; esforços de gente disposta a recuperar a história e contá-la em reação à versão das mineradoras; trajetórias de quem não desiste e enfrenta a luta. Investigar a educação não é apenas entrar nas escolas; é olhar para todo um modo de vida que ainda não foi reparado e que se entrelaça no cotidiano.
Parte 2:
Parte 1:
- Reinventar a vida, às pressas e sem despedidas
- “A gente entende que, enquanto no mínimo mais de 50% da comunidade escolar não voltar, ela deveria continuar aqui”
- Oito anos após Fundão, a Prefeitura de Mariana se equilibra entre a reparação e as mineradoras
- Da bateia às barragens
Este especial foi produzido com financiamento do programa Acelerando Negócios Digitais 2023, do ICFJ/Meta, no qual o Jornal A SIRENE foi contemplado.
Para continuar produzindo reportagens que revelem as lutas, as memórias e os afetos das pessoas atingidas, o Jornal A SIRENE precisa da sua ajuda. Compartilhe nossa produção, doe para nossa causa.
Reportagem:
Alexandre Coelho Melo
Amanda Almeida
Karina Gomes Barbosa
Karine de Oliveira Costa
Yasmim Paulino
Fotografia:
Alexandre Coelho Melo
André Carvalho
Wilson da Costa
Yasmim Paulino
Foto da capa:
André Carvalho
Edição:
Karina Gomes Barbosa
Mentoria:
Chico Otávio
Apoio:
Universidade Federal de Ouro Preto