Cerca de 900 dossiês entregues às famílias atingidas de Mariana

Por Maria do Rosário O. Carneiro (Coordenadora do Projeto de Cadastramento) e Laís Jabace Maria (Assessora Técnica, referência do Projeto de Cadastramento)

O cadastro das famílias atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana-MG, realizado pela Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais, iniciado no ano de 2018, como pactuado em audiência, foi finalizado. A Cáritas segue trabalhando para finalizar a segunda etapa, iniciada em 2019, que se encontra em processo avançado.

Construir um cadastro plural, que documentasse ao máximo os diversos danos sofridos pela população, foi resultado de muita luta. Os primeiros levantamentos das empresas consideravam apenas cerca de 400 famílias como atingidas. E cá estamos, com quase 900 dossiês entregues (2018) e mais algumas centenas sendo realizados (2019).

A metodologia utilizada resultou de muita reunião, parcerias e diálogos orientados pela certeza de que são os(as) atingidos(as) que devem dizer como o crime atravessou suas vidas e, por mais que a dor e as perdas sejam impossíveis de se expressar com exatidão em palavras, números ou mesmo em imagens, precisamos que elas estejam ao máximo organizadas em um documentos que subsidiem as negociações e os conflitos a serem travados. Não devem ser, portanto, levantadas pelas empresas.

O dossiê, documento que reúne todas as informações do cadastro, passou por cinco etapas:

A primeira lista, à qual chamamos de 2018, cadastrou 920 famílias; a segunda teve 476 interessados, mas, até o momento, cerca de 430 se apresentaram para o cadastro que está em andamento; a última lista, fechada em dezembro do ano passado, conta com quase 200 interessados e ainda não está definido se o cadastramento desses atingidos será feito pela Cáritas ou pela Fundação Renova. Além das famílias, algumas entidades estão se cadastrando, como instituições religiosas e culturais, associações de moradores, Folia de Reis e cooperativas.

Lutar pela reparação justa e integral é o que as famílias das comunidades do município de Mariana têm feito desde o dia 5 de novembro de 2015. Passados mais de quatro anos do rompimento da barragem de Fundão, uma das conclusões a que se pode chegar é que, para um crime/desastre socioambiental continuado, a assessoria técnica também tem que ser continuada, pois seus efeitos se prolongam no tempo e nos espaços. Nesse sentido, o processo de cadastro tem se apresentado como um grande desafio, pois os efeitos do crime/desastre na vida e nos direitos das pessoas tendem a aumentar, o que faz com que um número maior de pessoas passe a se reconhecer como atingidas e pleitear os seus direitos, o que também passa pela continuidade do cadastro.