Brumadinho dois anos depois

O mês de janeiro traz mais um marco dos inúmeros crimes cometidos pelas empresas mineradoras: o rompimento da barragem B1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, ocorrido no dia 25 de janeiro de 2019. Há dois anos do crime que matou 272 pessoas, as consequências do rompimento e os rastros de destruição deixados permanecem levando vidas, sonhos e a saúde da população atingida.  Rejane Fernandes Reis, moradora da comunidade de Pires, em Brumadinho, relata que a vida dos(as) atingidos(as) mudou completamente, em todos os aspectos e, ainda assim, ao longo desses dois anos, a Vale segue cometendo novas violações contra essas pessoas que se sentem, hoje, desamparadas.

Por Rejane Fernandes Reis

Com o apoio de Júlia Militão

Foto: Isis Medeiros

O que eu tenho a dizer sobre a Vale e sobre esses dois anos que se passaram é a indignação de nada ter sido feito. As nossas vidas viraram de pernas para o ar, não temos mais estruturas e eu não vejo mais nenhuma luz no fim do túnel, não consigo ver nenhuma saída. São dois anos de muita angústia, de muita luta. A Vale é que provocou tudo isso e nós, atingidos, temos que implorar pela reparação, pela indenização e pelo auxílio emergencial. O que eu vejo é que nada está sendo feito. Ela faz uma coisa aqui, uma coisa ali, uma reparação aqui e outra ali, mas nada suficiente para que venha, pelo menos, amenizar a dor que estamos sentindo. A minha vida, nesses últimos dois anos, mudou de uma forma que eu mesma não estou reconhecendo. A minha comunidade, Pires, está devastada. Eles entram na comunidade e fazem o que querem e nós não temos apoio das instituições de justiça pra nos amparar. Então, o que está acontecendo é que cabe a nós, atingidos, lutar, gritar e pedir socorro, porque estamos totalmente desamparados. Acho que estamos abandonados, pois nada foi feito e estamos totalmente nas mãos da Vale, sem saber o que fazer. Deixo, aqui, a minha profunda tristeza de ver tanta coisa acontecendo, tanta coisa nos magoando… Porque a Vale matou, ela levou junto com ela nossos sonhos, nossas perspectivas de vida. A lama levou junto a nossa vida e nos deixou vivos, mas mortos pra vida, sem saber o que fazer, sem sonhos, sem planos, porque não sabemos o que vai acontecer, o que vai ser da nossa vida. A gente ficou sem destino. O que estão sendo esses dois anos? Estão sendo anos de tristeza, de angústia, de mágoa… Está sendo muito difícil pra gente. Tirou nosso emprego, tirou a nossa saúde, tirou a nossa alegria de viver. Nossas comunidades, Pires, Córrego do Feijão, Parque da Cachoeira, entre outras, pedem socorro, pedem que as instituições de justiça nos ouçam, estejam a nosso favor, assim como foi no começo, porque estamos abandonados por tudo e por todos. Aqui é só nós, atingidos, um pelos outros. Essa é a minha indignação contra a Vale, que matou nossos sonhos, a nossa gente e os nossos amigos. 

Rejane Fernandes Reis, moradora de Pires – Brumadinho

Foto: Marcela Nicolas / Comunicação RENSER