Pelos direitos de todas as famílias

O crime da Samarco, Vale e BHP, em 2015, segue fazendo vítimas e transformando a vida de muita gente, mais de sete anos depois. Morte, luto, reassentamento incerto, injustiça. Cenário de dor. Dor que vem acompanhada, muitas vezes, de conflitos familiares ou mudanças na configuração das famílias. O rompimento da barragem de Fundão afetou, além de tantas outras coisas, o relacionamento das pessoas atingidas: como manter um convívio saudável com a saúde mental e física desgastada?
Assim a vida caminha e muitas pessoas atingidas passaram a compor novos núcleos familiares: nascimentos, novas uniões, separações, falecimentos. A Justiça de Minas Gerais decidiu que as famílias que se formaram entre 5 de novembro de 2015 e dezembro de 2020 têm assegurado o direito à moradia. Todas as pessoas atingidas podem preencher o cadastro para ter direito à indenização. A Samarco, por meio da Renova, deve garantir um imóvel para cada novo núcleo familiar, diz a letra da lei, mas, entre dever e fazer, há uma lacuna gigantesca de pessoas e de distintos modelos de família que seguem sem justiça e moradia.
Por José dos Santos e Anderson Jesus de Paula
Com o apoio de Tatiane Análio

“Quando o crime aconteceu, eu estava em Barra Longa e era casado. O meu processo de separação se deu também porque minha ex entrou em depressão, eu entrei em depressão. Eu tenho problemas de saúde também. Meu filho também entrou em depressão. Mudaram a gente de casa, até hoje não voltaram a gente para casa. Ela mora em outra casa com meu filho. Eu estou morando na minha casa, que continua interditada já faz quatro anos ou mais. Eu tentei um aluguel com a Renova e eles não arrumaram para mim. Aí, como o aluguel aqui em Barra Longa é muito caro, eu voltei para casa que está interditada e estou morando lá. A casa está toda rachada, o piso todo quebrado. E, até hoje, a Renova não deu nenhuma resposta. Entrou água na garagem no início do ano passado, naquela chuva que deu, aí eu coloquei lona lá. Pedi à Renova para arrumar minha casa, eles não fizeram nada, falaram que não podem fazer nada.”
José dos Santos, morador de Barra Longa
“Meu tio tinha uma união estável quando o crime aconteceu. Eles tinham um terreno juntos. Houve a separação dois anos depois da tragédia. E aí ele era tratado dentro do processo de reparação como novo núcleo. Então, no caso específico dele, de reparação, ele tinha direito de uso e de uma metragem no Novo Paracatu e, devido a questões de saúde, ele foi realocado dentro de Paracatu. Ao mudá-lo de terreno, a Renova também diminuiu a metragem dele de 800 metros para 250 metros quadrados, tirando assim todos os direitos de reparação que ele tinha, como alguns pés de fruta e o galinheiro. Ele adoeceu e eu fiquei responsável pelo processo. Aí eu comecei a perceber, mais ainda, como a Renova tratava ele com injustiça devido à sua baixa escolaridade. Eu vi que ele estava perdendo muito. Solicitei várias tratativas para que ele tivesse uma reparação justa.”
Anderson Jesus de Paula, que fala por seu tio Roberto Carlos de Paula, ambos moradores da comunidade de Paracatu de Baixo