O trauma da reconstrução

[vc_row][vc_column][vc_column_text]Após constantes problemas com as obras, atingidos(as) conseguem, a partir de reivindicações, a formação de uma equipe técnica para acompanhar o processo de construção e de reforma das casas em Barra Longa. O grupo é composto por profissionais de diversas áreas e está ligado à equipe de moradias da AEDAS, que assegura a participação dos(as) atingidos(as) nas etapas de entrega das casas.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][thb_gap height=”50″][vc_column_text]

Por Anderson de Carvalho Cerqueira, Cristiane Martins, Danielle Passos Jorge, Maria de Fátima dos Santos Castro e Maria Martins de Carvalho (Zezé)

Com o apoio de Joice Valverde, Simone Silva e  Wigde Arcangelo

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][thb_gap height=”50″][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]A lama de rejeito veio, entrou na minha casa debaixo, abalou a casa de cima. Aí a gente pediu para reformar, aí eles falaram que iam reformar só lá embaixo. Eles estão arrumando lá embaixo, mas estão arrumando do jeito deles. Eles falam que quando nos tiraram de nossas casa, temos que voltar com ela melhor do que estava, mas qual melhor? Tá pior. Quando é militante, eles cutucam a gente para desistirmos e irmos para o lado deles, porque, se formos para o lado deles, talvez eles façam para a gente. É tristeza, dá vontade de chorar ver a nossa casa desse jeito, e rico não precisa nem reclamar. A gente é pobre, não tem auxílio, não tem nada. A diferença que tenho, para as outras pessoas que conseguem a casa, é que sou militante. A casa de rico, eles fazem o melhor possível; militante, preto e pobre não consegue nada.

Cristiane Martins, moradora de Barra Longa

 

Eu pedi para eles fazerem uma cozinha com fogão a lenha, porque tinha antes, na casa que foi desmanchada. Agora, a cozinha e a lavanderia estão muito pequenas. A Renova falou que eles iam fazer a casa do jeito que era antes, mas diminuíram a minha casa. Eu quero um muro, quero uma cozinha do jeito que era antes, já deixei escrito lá. A engenheira do escritório mandou eu aguardar, disse que está difícil de fazer. Mandou eu entrar na casa para, depois, eles tentarem mudar. Eu tô com medo de fazer mais reclamação e demorar mais para me mudar. A Renova diz que, se eu pedir muita coisa, eles vão demorar a me devolver a casa. Tá demorando bastante. Começaram a reforma em 2015. Em dezembro de 2016, ficou pronta e eles não conseguiram me dar até hoje. Hoje, tenho que subir morro, tenho pressão alta e me dá formigamentos nas pernas de tanto subir morro.

Maria Martins de Carvalho (Zezé), moradora de Barra Longa

 

Está chovendo e está molhando tudo, porque as telhas se movimentaram, encardiu tudo. Tirando as rachaduras que eles falaram que não foi o caminhão que causou, que deve ser criança que bateu coisa na parede. Aqui, a gente só tem uma criancinha que não tem nem um ano. Eles põem a gente tensa, porque você não tem onde recorrer, não tem psicológico, não tem nem palavra. As palavras até somem, porque não tem como, você para e pensa: “gente, como é que eu vou fazer agora?”. Não tem jeito. Ontem, eu fiquei tão brava, mas fiquei brava à toa, porque ninguém podia me ajudar. Você ter que correr atrás de coisa que eles são obrigados a fazer para você é muito desaforo.

Maria de Fátima dos Santos Castro, moradora de Barra Longa

 

Minha casa, hoje em dia, tá aí, só levantada. Eles levantaram a minha casa e disseram que iriam entregar no fim do ano passado, mas não sei o que eles fazem, depois falaram que seria em março deste ano. Eles só mudam a data, mas não colocam ninguém para trabalhar. A equipe técnica vai ajudar muito, porque tem muita gente desempregada que precisa deste serviço. 

Anderson de Carvalho Cerqueira, morador de Barra Longa

 

Arquitetos, engenheiros, historiadores, psicólogos e assistentes sociais trabalharão com os atingidos no entendimento de todo o processo da reforma, para explicar o projeto e ver se está de acordo com a expectativa levantada por eles. No território serão feitas vistorias para indicar se a casa tem condição de permanecer em pé, se é caso de demolição, se é possível reconstruir no mesmo terreno ou, caso o terreno não tenha mais condições de receber uma estrutura, fazer o reassentamento dessa família. Os atingidos têm também o direito de escolher como será a reforma da casa, se será feita por terceirizadas da Fundação Renova, por uma construtora local, por conta própria ou por forma coletiva de construção (mutirão, associações, pequenos coletivos, entre outros). Essa escolha já foi garantida por meio de parâmetros e de diretrizes aprovados no ano passado.

Danielle Passos Jorge, arquiteta e urbanista da assessoria técnica AEDAS

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