Renova abandona obras em imóveis atingidos em Barra Longa

Rachadura na parede tem a data em que apareceu

Desde o crime da Samarco, Vale e BHP, em novembro de 2015, moradoras e moradores de Barra Longa convivem com uma série de problemas relacionados à infraestrutura local e à perturbação dos modos de vida. Na cidade, que teve o centro urbano atingido pelo rejeito, a rotina passou a ser marcada por máquinas pesadas, poeira, trânsito de pessoas desconhecidas e barulho.

Os danos causados após a chegada e o processo de retirada do rejeito transformaram o município em um canteiro de obras permanente e indesejado. Apesar do trabalho, aparentemente intenso, a população se queixa de obras não iniciadas, demora na finalização e da entrega de trabalhos mal feitos. Reformas começadas há anos foram abandonadas e as reclamações são ignoradas.

O rejeito danificou uma área estratégica para comerciantes, famílias, trabalhadores(as) rurais e pescadores(as). O fluxo intenso de maquinário pesado, justificado pela Renova para desobstruir vias, contribuiu e ainda contribui drasticamente para comprometer a estrutura de imóveis. A Renova, entretanto, desconsidera parte desses(as) moradores(as) como atingidos(as) e atua, desde sua criação, de forma insatisfatória e injusta.

Por Daniele Bié e José dos Santos

Com o apoio de Crislen Machado

Fotos: Sérgio Papagaio

“A minha casa foi afetada diretamente. A lama entrou no andar de baixo e na escada que dá acesso principal ao andar de cima. Minha rua ficou sem água, sem luz, um caos geral. Eu fiquei morando fora de casa por dois anos e meio e, nesse período, apareceu muito problema. Na casa da minha avó, na rua de cima, eles refizeram o quintal, porque foi lama em tudo, refizeram o esgoto e passaram pelo meu terreiro.

Eu tenho uma piscina e esse esgoto está voltando, tá dando mau cheiro e está molhando o muro. Um funcionário deles, na época, esteve na minha casa e falou comigo que, se continuasse molhando, corria o risco da estrutura ceder e que eu acabaria perdendo o trabalho da piscina. Pouco depois, veio a pandemia e, agora, nem respostas dão. A gente liga e eles dizem que fecharam o protocolo.

Não voltaram para terminar a obra e eu não assinei nada sobre a reparação. Preferi voltar para casa pelo fato de terem me dado muito problema, mas eu não assinei nenhum termo de aceite de voltar para a casa. Eu voltei pra não perder todo o resto das minhas coisas, mas eles não voltaram para finalizar a obra. No portal, eu não sou reconhecida como atingida, mas, no sistema deles, disseram que gastaram cento e tantos mil de obras na minha casa, sendo que eu não assinei nenhum valor, eu não sei de onde eles tiraram que gastaram tudo isso na minha casa.”

Daniele Bié, moradora de Barra Longa

“Eu fui atingido pelo fluxo de caminhões aqui perto de casa. A minha casa foi interditada pelo Corpo de Bombeiros e pela Defesa Civil porque ela tá toda rachada, tem rachadura aqui que cabe uma mão, mas, mesmo assim, faz dois anos que eu tô morando nela. Antes eu até recebia o valor do aluguel, mas eu me separei e, como não tinha pra onde ir, resolvi voltar para cá. O aluguel tá muito caro e eu não tinha como pagar, então procurei a Renova, mas eles mesmos me mandaram voltar para essa casa. 

Tem uns laudos da minha situação aqui, mas, até hoje, não fizeram nada, tá tudo parado. Essa chuva que aconteceu no fim do ano passado e início desse ano também contribuiu no prejuízo, porque entrou água na minha garagem, desceu um barranco e quase jogou a casa no chão. Em nenhum momento, eles fizeram nenhuma reforma e nem deram previsão. Dizem que eles não vão mexer, que vão pagar pra gente arrumar, mas, até hoje, nada. Eles também quebraram a entrada da minha garagem todinha e eu tive que arrumar. Tem muita gente que tá na mesma situação que eu, só na rua de cima tem umas cinco ou seis pessoas com as casas interditadas.”

José dos Santos, morador de Barra Longa