Papo de Cumadres: Paracatu

Concebida e Clemilda estão de boca aberta, pois visitaram o velho Paracatu, e quase oito anos após o rompimento, aquele lugar ainda guarda em si muita energia transformada em grande sofrimento. Só de olhar pra escola é possível entender como foi conjugado a verbo sofrer.

— Cumadre menina de Deus, eu fui nu Paracatu pamode acompanhá uma turma de uma escola de São Paulo que, as ruínas lá foram visitá, onde eu vi mais tristeza nu geitu dês oiá. Foi quandu visitaram a escola de lá, pois é alunus e alunas vendu u lugar de istudá du geitu que tá. Eu já fui lá mais de 100 vez, mas quando a gente chega a dor parece a da primeira vez. É tanta tristeza junta, transformada em eneugia ruim, que faz a gente vorta nu tempo e se sentir nu meio do dilúvio e reviver este mal que arrasou u arraial.
— Ora, cumade minha fia, tô intendendu seu turmento, pois ocê nem se alembre que quandu ocê chegô em Paracatu, eu já me encontrava lá dentru. Eu vi suas lágrimas e mesmu se eu num te cunhecesse, só de vê elas correndo pela sua cara abaixu, já dava pra entender seu lamentu.
— Jesus Maria José, eu fiquei tão abobada com a situação que u araiá ainda está, que nem pra me alembrá que ocê também tava lá.
— Intonse, é issu que eu digu, pode passá u tempo que passá, que a situação de abandonu da renova e as mineradora em relação ao acontecidu só num é maior que a dor que todo dia nois tem sintidu, e nem maior que a cegueira da justiça, que ta venu tudu istu a nus martratá, mas teima em não enxelgar.