O abandono da casa de Deus: outro capítulo do crime da Samarco

Torre da Igreja de Gesteira rachada

Tristeza e revolta, sentimentos que traduzem este triste capítulo da história do rompimento da barragem da Samarco e de suas controladoras, Vale e BHP.

Por Sérgio Papagaio

Em um dia de janeiro, tive a infelicidade de testemunhar algo que traduz, com exatidão, o tratamento ao qual a Renova submete as pessoas atingidas. Em frente à Igreja do Gesteira, pude entender qual é o nosso valor na visão das mineradoras. O descaso que levou a igreja à ruína mostra que as mineradoras, representadas pela sua fiel escudeira, a Fundação Renova, não têm o menor respeito pelas pessoas atingidas.

Muitos e muitas ainda estão fora de suas casas, sem previsão de voltar, pois suas moradias foram total ou parcialmente destruídas e, até agora, não foram reparadas. Quando olho para o estado da igreja, pergunto: será que Deus também está desabrigado?

Fachada da Igreja de Barra Longa com rachaduras
Foto: Sérgio Papagaio

Pois tanto no Gesteira como em Barra Longa a casa do Pai está fechada. No Gesteira, o abandono das obras e o descaso da Renova levou a torre da igreja a ruir. Em Barra Longa, o tráfego de máquinas, caminhões e equipamentos da Samarco e das empresas contratadas pela Renova para fazer a reparação, nas proximidades da Igreja Matriz, do patrono São José, abalou suas estruturas, o que causou danos comprometedores à edificação. A construção de 1774 tem obras de artistas, como José Pereira de Arouca e do entalhador Francisco Vieira Servas, e é uma das mais antigas de Minas Gerais.

Eles não perdoam nem a casa do Pai e fazem de Deus também um atingido por essa barragem, que rompe todos os dias sobre nossas cabeças, sobre nossa paz, sobre nossos sonhos. Que Deus tenha piedade desse povo!