Editorial (Setembro/2023)

Neste mês de setembro, A SIRENE dedica suas páginas novamente à realidade das comunidades atingidas pelo crime causado pelas empresas Samarco, Vale e BHP. Em meio a inúmeras narrativas que se caracterizam por uma incansável busca por justiça, reparação e pelo simples direito de permanecer em suas terras de origem, compartilhamos hoje mais uma lamentável situação que se desenrolou em Paracatu de Cima. O protagonista desse episódio é Marino D’Angelo, residente local e membro ativo da Comissão dos Atingidos pela Barragem de Fundão (CABF).
Marino foi conduzido à Delegacia de Polícia Civil de Ouro Preto devido a uma situação em que funcionários da Renova, agindo sem sua autorização, demandaram acesso à residência para iniciar obras em um local sagrado para sua família. Esse terreno já abrigara a mãe de sua esposa, Dona Eni, que, infelizmente, faleceu sem que tivesse acesso a devida reparação.

É imperativo ressaltar que Marino já havia estabelecido um acordo verbal com a Renova, no qual se estipulou que nenhuma intervenção ocorreria em suas terras até que as questões relacionadas à reparação individual fossem devidamente resolvidas. Entretanto, o que se sucedeu foi a recusa da Renova em honrar tal acordo, o que culminou na decisão de ignorar o pedido para que seus funcionários se retirassem da propriedade. De forma ainda mais preocupante, a Renova envolveu as autoridades policiais, o que resultou na detenção de Marino sob acusações criminais.
Essa atitude suscita sérios questionamentos quanto a uma possível tentativa de criminalização e perseguição das pessoas atingidas. A situação se agrava ao tomarmos conhecimento de relatos de que Marino sofreu escoriações durante a ação, o que amplia ainda mais nossas crescentes preocupações com a segurança das defensoras e dos defensores dos direitos das pessoas atingidas.
Marino e sua família, assim como tantas outras ao longo da Bacia do Rio Doce, têm travado uma batalha incansável por quase oito anos e enfrentam injustiças e desafios persistentes. Essa recente violação, uma dentre várias que parecem se multiplicar, enfatiza a urgente necessidade de proteger as comunidades atingidas e todos aqueles que, com coragem e determinação, defendem os direitos humanos e o direito à manifestação diante dos desastres provocados por empresas de mineração em todo o Brasil.
A SIRENE continuará sendo a voz que ecoa essas histórias e denuncia as injustiças. Convidamos cada um de vocês, nossas leitoras e nossos leitores, a se unirem a nós nesse compromisso de informar, resistir e lutar por um Brasil mais justo e igualitário. Juntas e juntos, seremos a sirene que ecoa a verdade e clama por justiça.