Negligência com a fé: Renova não supre a demanda por transporte durante celebrações religiosas

A Renova tem falhado em cumprir seu dever de levar e buscar os fiéis de Bento Rodrigues a celebrações religiosas no reassentamento coletivo. Somam-se relatos de pessoas que foram deixadas para trás em pontos de ônibus de Mariana. Numa comunidade em que a fé é tão latente, a sensação de descaso ao viver essa situação gera tristeza e revolta. A comunidade unida é forte e reconhece que, com a criação de situações que causam distanciamento em momentos importantes, pode haver fragilização dos seus laços.
“Desde que viemos para Mariana, celebramos uma vez por mês. Há mais de um ano, estamos celebrando em Bento Rodrigues Novo. Providenciaram um transporte para nos levar à celebração no quarto domingo de cada mês, mas esse transporte, em vez de cumprir seu propósito, falha em levar os fiéis para alimentar a fé com seu povo. Quantas vezes ficamos esperando e nada acontece? Teve o dia de acolhida dos catequistas na comunidade, todos estavam lá, esperando o povo chegar, mas o transporte não apareceu. Sete crianças que iriam se apresentar também não puderam participar, isso causou tristeza tanto para eles quanto para os outros que já estavam na comunidade. O dia, que deveria ser de felicidade para todos, acabou se transformando em lamentação e tristeza para nós, da comunidade. Nós nos apoiamos na comunidade, e a empresa foi covarde ao não cumprir com suas responsabilidades nessa questão.”
Rosilene Gonçalves da Silva, moradora de Bento Rodrigues
“Já ouvi várias reclamações dos fiéis, membros da comunidade do Bento, insatisfeitos e frustrados, quando ficam pelo caminho, impedidos de participarem pela falta do transporte. Vejo a necessidade de se melhorar o processo dado, evitando transtornos assim. É muito triste a pessoa ter se organizado para participar e, na hora, se ver impedida por causa da falta de transporte, algo já acordado entre a comunidade e a Renova.
A falta, mesmo que eventual, traz transtornos. A última vez, na festa da catequese paroquial, tínhamos crianças que haviam preparado apresentações. Fico pensando na decepção delas, algo evitável, além dos transtornos que vivenciam nesse novo contexto de vida, em suas muitas consequências, pós-rompimento da barragem.
Impasses e situações de conflito existem para serem superados. Acredito no diálogo entre as partes, na boa vontade em resolver logo, em sanar essa situação. Os atores nesse processo, como a comissão das atingidas e dos atingidos do Bento, a Assessoria Técnica da Cáritas, a própria igreja, podem ajudar, mediando conversações. Sempre podemos fazer melhor e o desejo é um só: o bem espiritual e social dos membros da comunidade do Bento.”
Padre Marcelo Moreira Santiago, reitor do Santuário e pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus
“No mês passado, decidi utilizar o transporte da Renova para ir a uma celebração e fiquei esperando. Meu padrinho já foi deixado para trás duas vezes. Ele estava no ponto, mas o ônibus não passou. Em outra ocasião, o ônibus passou tarde e ele teve que esperar uma hora no ponto, chegando atrasado. Meu tio, que tem 86 anos, está passando por isso também.
No dia em que fiquei para trás, havia crianças e idosos, e estava chovendo muito e muito frio. Uma das crianças que estava lá iria se apresentar pela primeira vez na igreja, mas não pôde ir porque o ônibus não passou.
Houve também um retiro de catequese em Bandeirantes. Eu fui no meu carro, mas, assim que cheguei, fiquei sabendo que não tinham enviado o ônibus para buscar as pessoas. Elas tiveram que vir de ônibus.”
Marly de Fátima Felicio Felipe, moradora de Bento Rodrigues
Por Rosilene Gonçalves da Silva, Padre Marcelo Moreira Santiago e Marly de Fátima Felicio Felipe
Com o apoio de Crislen Machado